criticismo radical parte 11: a construção do sujeito na psicologia crítica radical

Quando construimos uma teoria revolucionária nova, a formação do sujeito é muito importante, ficar na lógica marxista onde o indivíduo é deixado de lado em prol do coletivo só transformará sua teoria em uma teoria adoecedora, a sociedade é um amontoado de indivíduos, esquecer dos indivíduos é um erro, a revolução inteligente precisa formar sujeitos revolucionários e com isso eu digo sujeitos porque não defendemos a robotização dos revolucionários.

A falha do reflexo 

Melanie Klein e Jacques Lacan com a psicanálise desenvolveram a tese de que o desejo do sujeito é o desejo do outro refletido em si mesmo, ou seja o desejo do sujeito é uma projeção do desejo do outro, mas qual o problema nisso? Aparentemente nenhum, no entanto se observarmos com atenção, quando é produzido uma ideia de que seus desejos são os desejos de outra pessoa acaba entrando para uma lógica de normalização forçada onde faz todos os sujeitos se compararem um com os outros e passam a excluir a sua essência única que os diferencia dos outros sujeitos. Quando o sujeito entra na teoria do reflexo ele encara um grave problema que a psicanálise tem que é tornar o sujeito como categoria do desejo, o que isso quer dizer? O desejo na psicanálise se torna o centro de análise do sujeito, o que quero dizer é que o desejo na psicanálise se torna o norte do sujeito, não precisando estudar os outros parâmetros do sujeito pois toda complexidade do sujeito (para a psicanálise) é formada pelo desejo.

Quando estudamos o ser é comum partirmos para as análises categoricas montando grupos de sujeito semelhantes um com o outro, por exemplo eu gosto de anime e Marcos também logo eu e ele fazemos parte do grupo de sujeitos denominado otaku, mas esse agrupamento pela semelhança carrega uma falha muito grande, a ideia que a sociedade é formada pelas semelhanças dentre os sujeitos acaba levantando a dúvida, se somos formados pela nossa semelhança então o preconceito não existe? Se existe e concorda com essa tese, então alguns sujeitos são mais semelhantes que os outros? Percebe-se que a sociedade só pode ser formada pelo que os sujeitos tem de diferença, a semelhança une a gente, mas só até certo ponto.

A análise do sujeito como uma não-analise

Quando estudamos o sujeito é comum analisarmos ele pelo que observamos nele, mas se o objetivo é se aprofundar no estudo do sujeito então provocar um estudo sobre o que não somos é mais interessante, vou citar um exemplo, eu sou lésbica e estudo a heterossexualidade para afirmar com mais convicção como lésbica, isso acontece com outras coisas além da sexualidade. Eu não quero incentivar ninguém a parar de fazer uma análise de si, muito pelo contrário, o que eu to buscando demonstrar é (des)caminhos para fugir dessa rota de fuga da simples análise do Eu. Nietzsche disse uma vez "os grandes intelectuais são céticos"  essa frase é muito importante mais carrega um erro hermenêutico, os grandes intelectuais são céticos, mas nem todo cético é um grande intelectual, oq isso quer dizer? De maneira simples, esse jogo de palavras demonstrou que para ser uma grande intelectual é preciso ser cética, mas não só isso, aqui entra a análise do sujeito, todo grande intelectual está em uma busca infinita por autoconhecimento, essa é a característica mais importante entre os grandes intelectuais, eles sabem que são diferentes e por serem diferentes precisam se ajudar.

O isolamento pseudoautocompulsivo 

O tempo é uma das criações mais importantes do homem e é muito importante para nossa saúde mental escolhermos as nossas companhias para conviver nosso tempo com elas, mas essa escolha é feita por outras pessoas ao longo da nossa infância e na adolescência, não temos a escolha e quando temos é de colocar pessoas da nossa vida não de retirar, essa é uma dádiva que só a vida adulta consegue fazer (e também depende muito), essa companhia forçada com o outro pode causar traumas de viver com alguém (e aqui não estou dizendo de relacionamento amoroso) e como mecanismo de defesa o seu Eu de forma compulsiva se isola de tudo e todos, bem, é isso que você acredita por conta desse mecanismo de defesa, mas o isolamento é causado pelo outro que vc entrou em contato e convive porque é sua obrigação, esse isolamento é uma forma de se proteger de qualquer pessoa que se aproxime, mas esse mecanismo de defesa é falho por princípio, se isolar de todos e viver com alguém que somos obrigadas a conviver tem o mesmo peso a diferença é que o isolamento essa dor corrói aos poucos e é substituída pela falsa sensação de conforto de estar só com você mesmo, mas isso é uma mentira porque o isolamento não causa autoconhecimento para saber quem de fato somos.

O problema do isolamento pseudoautocompulsivo é uma ferramenta do capitalismo Contra insurgências revolucionárias, essa tática é usada se aproveitando de uma falha do movimento revolucionário que é esquecer de tratar o indivíduo e focar no coletivo como se o coletivo e o indivíduo fossem dissociaveis quando não são. Essa prática baseia na falsa premissa que podemos conviver ou não sozinhos, quando não conseguimos, todos dependemos de alguém, mas não podemos ser exclusivamente dependentes dos outros, os dois extremos da sociabilidade são igualmente prejudiciais para o sujeito, de um lado existe um ser sem autonomia e do outro temos um ser morto porque se isolou de todos.

O sujeito encontra o sujeito 

Uma das heranças que temos da psicanálise é que o objetivo dela é buscar do sujeito em projeto terapêutico o seu autoconhecimento, mas isso não é próprio da psicanálise em si, o autoconhecimento vem da filosofia,  quando Nietzsche diz que "os grandes intelectuais são céticos" ele não está reduzindo o ceticismo para o conhecimento material além do Eu, ele também está impondo que todo grande intelectual é cético em relação ao Eu, ou seja o ceticismo defendido por Nietzsche também tem relação com autoconhecimento, com a busca incessante por ele. Quando passamos a investigar o nosso Eu passamos a perceber um detalhe muito importante, vamos muito além dos nossos desejos e gostos, o que não gostamos e nos dá angústia também é importante. O principal ponto do autoconhecimento é que ele tem um limite que é expandido a cada dia que estudamos história, sociologia, filosofia, antropologia, biologia, química, etc. Ou seja, o auto conhecimento se expande quanto mais conhecemos o mundo e a sociedade que nos molda.

Um militante de uma organização criticista radical tem que ter as características propostas acima, mas o mais importante de tudo, ela tem que ser ela mesma ter gostos, desejos, mas não se deixar pensar que é só isso, a busca pelo autoconhecimento é tarefa de todo militante, o conhecimento e o autoconhecimento é uma tarefa revolucionária.

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