O criticismo radical parte 1 como ele se desenvolve
O primeiro passo para entender o criticismo radical é o porque de sua existência, a critica radical sempre existiu, mas nunca foi aderida como um pensamento próprio, isso porque não houve a necessidade de reivindica-lo até agora, mas um momento em especifico da minha vida enquanto marxista me fez pensar, existe um movimento de pessoas que estão reivindicando o legado do velho marx, mas nunca passaram a analisar o seu objeto de estudo na atualidade: a sociedade em si.
Eu fui por muito tempo uma pessoa dogmática e hipócrita pois defendia o maoismo, onde na teoria defende um movimento antidogmático mas na totalidade são o completo oposto disso, com o tempo eu fui percebendo que existia algo de errado com o maoismo, e comecei a ver que não era só no maoismo, isso acontecia desde o marxismo com Engels, com o tempo de análise e estudo, surgiu a necessidade de retomar o princípio fundamental da filosofia kantiana, o criticismo, mas, não pode ser qualquer criticismo, tem que ser um radical, onde tinha como princípio máximo, a falha está presente para todos, se seu texto não tem erros na primeira vista, leia novamente até encontrar o erro e elimina-lo.
Nesse presente artigo eu irei demonstrar como as análises são feitas no criticismo radical.
Fanon diz:
"A noção de desempregado: nas colônias, ele não é um trabalhador sem trabalho; é um nativo cuja energia não foi ainda requisitada pela sociedade colonial. É uma reserva em caso de defecção dos outros trabalhadores: segundo o prof. Porot, o norte-africano se seniliza muito rápido (aos 35 ou quarenta anos de idade). O desemprego não é um problema humano; é uma reserva perpétua; antes de mais nada, para substituir os senis precoces, ou então em caso de reivindicação dos nativos empregados, reserva de chantagem para manter os salários num nível irrisório. A massa dos desempregados não incomoda os colonos." (alienação e liberdade)
Aqui fica auto evidente uma dualidade no pensamento de Fanon, assim como para Fanon o desemprego é parte do processo circular do trabalho, por tanto indispensável para a sua existência, colocando ele de forma negativa. De outro lado ele se contrapõe ao dizer que não é um problema humano, mas uma reserva perpetua, o desemprego realmente é uma reserva perpetua, o próprio marx comenta isso quando denomina aos desempregados o termo "exercito industrial de reserva", no entanto, o fato do desemprego ser considerado uma reserva perpetua não significa que não seja um problema humano, porque de fato é um problema humano de forma complexa o desemprego faz parte de um só corpo com o trabalho, ao mesmo tempo que o trabalho é a vitrine da mercadoria, o desemprego é sua parte interna, onde o trabalho se valoriza e acaba se fetichizando.
O que eu quero trazer com essa passagem de Fanon? mostrar que o duplo marx proposto pela critica do valor é muito importante para estudarmos vários outros autores, mas é uma proposta incompleta, pois não existe só uma dualidade, ao decorrer do meu quinto livro "o capital cognitivo vol. 1" pode se observar uma quadrupice raiz no pensamento de marx e que se acompanha em vários outros autores.
A critica do valor contribui muito ao mostrar que marx não é homogêneo, ele não carrega para dentro de sua teoria uma unidade de pensamento, mas uma dualidade conflitante entre si. Esse primeiro passo para uma critica radical é muito importante, o mérito de Kurz em mostrar que marx deve ser lido como uma forma de estudo do seu método e do seu objeto de estudo, diferente do que traziam os marxistas, estudando a totalidade do pensamento marxiano mas não o seu método e nem seu objeto de estudo, se faz muito importante.
Hoje em dia se faz muito importante o estudo dos clássicos, mas não o estudo dos clássicos para compreender os contemporâneos que bebem de suas teorias, mas para poder saber criticar os mesmos clássicos no qual se estuda, existe no marxismo uma forte tendencia de querer ler Hegel para poder ler Marx, isso é uma baboseira sem tamanho, se você lê Hegel você esta de forma consciente ou não buscando compreender o próprio Hegel, não estou aqui dizendo que ler ele não é bom para ler Marx, mas não é crucial, pois, apesar de Marx beber da filosofia hegeliana ele se transforma e "cria" a sua própria filosofia.
Um exemplo do que foi dito aqui pode ser mostrado a partir do verso "o poder da não violência" do filosofo Tao Te King:
"Quem pretender conquistar o Reino para si e com esse objetivo agir com muita
força, decerto não o conquistará.
Revela a experiência que o mundo não pode ser plasmado à força, ele é uma
entidade espiritual que se molda por suas próprias leis.
Decretar ordem por violência é crear desordem.
Querer consolidar o mundo à força é destruí-lo ou ser destruído,
Porquanto cada membro tem uma função peculiar:
Uns devem avançar, outros devem parar;
Uns devem clamar, outros devem calar.
Uns são fortes por si mesmo, outros devem ser escorados.
Uns vencem na luta da vida, outros sucumbem.
Por isto, ao sábio não interessa a força e jamais se arvora de dominador.
O sábio não usa a violência para atingir seus fins.
O curso da natureza das coisas é de tal forma, que o que está agora de frente
torna-se o reverso;
O aquecido em pouco tempo pode se esfriar."
Como podemos ver aqui, o filosofo pai do taoismo considera violência como conceito de agressão física ou moral, mas para outras teorias como a sociologia critica, o poder é sinônimo de violência, mas isso não vai contradizer o titulo da obra, pois, uma das mais variadas interpretações sobre as mais diversas formas de violência é a não violência é uma violência velada. Um exemplo de como uma não violência é violência pode ser encontrado nos pacifistas brutais, João pratica bullying todos os dias com Pedro, violentando ele, marcos por outro lado tenta conversar com João parar de violentar Pedro mesmo sabendo que isso de nada vai adiantar; nesse cenário a não violência de marcos contra João deliberou a violência de João a Pedro, mas isso poderia ser mostrado de inúmeras formas diferentes, o que eu quero demonstrar aqui para os leitores é por traz de toda não violência existe uma violência.
O criticismo radical por tanto concluir a violência é impossível de se extinguir(pelo menos não dentro da sociedade do capital)., o problema aparece quando não sabemos mais para que ela serve e a usamos de forma irracional contra a nossa própria espécie.
a ultima consideração aqui sobre como funciona as analises do criticismo radical é a construção dos significados de seus termos, vou dar três exemplos: sobre a alma, sobre o estado e sobre a natureza.
A alma é a falta que é construída a partir da falta como completude da falta, explicando de uma forma simples de se entender, o sujeito cria a alma para a sua completude, dentro da teoria Lacaniana o sujeito é a própria falta.
O estado é uma instituição social complexa, mas não por conta da sua forma interna, mas pelo seu externo, vários teóricos debrulham sobre o que o estado faz, mas poucos falam sobre como ele faz, para o criticismo radical o estado aparece como um aparelho autocrático das mercadorias em prol da sua sobrevivência.
A natureza é o todo que se reduz ao nada, em outras palavras, a natureza é o fenômeno externo e interno de toda construção social(ou ecológica)ou desconstrução apresentada na história, a natureza se divide em três grupos até agora; 1) a natureza social; 2) a natureza humana; 3) a natureza espacial.
A natureza social trabalha com as relações entre sujeitos; a natureza humana trabalha a relação do sujeito com o próprio ser; e a natureza espacial trata do por quê o espaço analisado é organizado desta forma e como organizar ele de forma melhor.
Essa trialidade na natureza para o criticismo radical pode mudar, pois é um estudo prematuro, uma das bases do criticismo radical é a crítica a ele, onde ele se utiliza da crítica ao próprio criticismo para se modificar.
Um ponto muito interessante de ser tocado nesse artigo é uma citação de Lacan:
"A oposição das ciências exatas às ciências conjecturais não pode mais sustentar-se, a partir do momento em que a conjuntura é passível de um cálculo exato (probabilidade) e em que a exatidão baseia-se apenas num formalismo que separa axiomas e leis de agrupamento dos símbolos."(Ciência e verdade).
Nesse ponto Lacan está questionando até onde essa separação entre as ciências é viável, começando uma teoria da interseção das ciências que tem uma produção gigantesca pós maio de 68, mas elas também tem um grande problema para o criticismo radical, dentro de uma proposta transdisciplinar é negado a importância do estudo da cultura para um povo, não só na antropologia cultural, mas na sociologia da cultura, a filosofia cultural, a história da cultura, a proposta aqui então é avançar para além do conceito de junção de todas as ciências, mas a quebra do ser ciência, sendo em si uma forma excludente de conhecimento.
Com a quebra do conceito de ciência pode ser questionado, e o pseudocientifico? Ele não será questionado?
A pseudociência é uma categoria bastante segregadora, onde tudo que se porta como conhecimento prático ou conhecimento científico e não seguir um método acaba entrando como uma falsa ciência.
A não existência da ciência serve para não nós prendermos a essa limitação, vou dar um exemplo:
Os signos são vistos como pseudociência pela comunidade científica, mas vamos pensar em um mundo onde as ciências estão abolidas, o signo pode se tornar mais relevante, mas não como um objeto de autoconhecimento, mas como um objeto de estudo cultural, como eles foram criados, como cada sociedade se comporta com relação a esse conceito, quais são os impactos do signo para a sociedade.
Entendem aqui que o objeto ridicularizado pela ciência pode ter uma importância muito grande para fora do seu próprio conceito?
Alguns leitores podem dizer "mas o estudo da cultura é importante para a ciência, a antropologia está aí para isso" a antropologia trabalha com uma parte da cultura, a cultura e sua relação com o homem, o estudo da cultura é um estudo sobre o que é cultura, o porquê da cultura existir, como a cultura existe, a modificação da cultura, etc. Existem milhares de estudos para fazer com a cultura "então por que não transformar a cultura em ciência?" Porque a ciência é parte da cultura, não o contrário, a cultura é o berço do conhecimento de toda a sociedade que vem sido negligenciado por muitos séculos, talvez a minha posição como anti ciência mas prol conhecimento seja polêmica para os que acreditam na ciência, mas isso é necessário para que possamos avançar cada vez mais como sujeitos pensantes.
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