criticismo radical parte 12: a (não) oposição ao culto de livros de Mao e dos maoistas

O movimento marxista no Brasil está crescendo muito e está caminhando para um lado problemático, o lado maoista, por isso nesse artigo iremos fazer uma longa crítica ao teoria maoista desde Mao até seus diversos seguidores. Para compreender essa série de erros vamos voltar para Lenin onde todos esses erros nasceram.

O criticismo radical contra Lenin 

O movimento comunista por muito tempo teve o pensamento de Lenin como um pensamento hegemônico e aparentemente continuador ao pensamento de Marx, mas para qualquer um que estude um pouco o pensamento de Lenin podemos observar que ele não segue muito longe do pensamento da segunda internacional (onde o marxismo tem origem), suas teses do partido centralizado são a prova clara de como transformar uma ditadura do proletariado em ditadura do partido carregando consigo toda a burocracia estatal proporcionando uma "revolução" que transforma a sociedade de capitalista para capitalista, ou seja, não há mudança substancial.

A figura do partido centralizado obedece a seguinte ordem: 

O secretário geral é o membro máximo do comitê central e é o responsável pelas decisões finais do partido.

O comitê central é o grupo que detém mais poder no partido centralizado, o Estado é controlado por esse grupo em uma sociedade como a URSS.

Os comites de fábrica e os conselhos estudantis são a base desse partido e serve mais como vitrine do partido ou para seguir as ordens do comitê central.

Lênin é um reprodutor da ordem capitalista como pode-se ver, a revolução de outubro não passou de uma revolução capitalista, não existe a possibilidade de uma revolução socialista seja feita por uma burocracia estatal (ou seja que quer manter o Estado), uma revolução socialista deve ser fundamentalmente autonomista. Veja o que cajo brendel diz em "A interpretação do marxismo de Lenin":

"Ao primeiro olhar Lênin vai muito além dos reformistas. Ele cita a passagem de Marx dizendo que “a classe trabalhadora não pode simplesmente apoderar-se da máquina estatal como tal e empunhá-la segundo seus próprios propósitos”. Ele descreve, corretamente, que segundo Marx a máquina estatal deve ser destruída, e como Engels fala sobre o “definhamento do Estado”, que no começo de uma sociedade sem classes “deve ser relegada ao museu de antiguidades”.

Mas qualquer um que leia “O Estado e a Revolução” atentamente e compare as conclusões deste trabalho com o pensamento de Marx e Engels nota que Lênin não entendeu a autocrítica e fornece uma má interpretação do marxismo.

Quando Lênin fala sobre o “Manifesto” em “O Estado e a Revolução”, ele mostra que Marx e Engels neste texto identificaram o Estado e o “proletariado organizado como classe dominante”. Mas ele não vê que tudo isso decorre do fato de que em 1848 Marx e Engels pensavam que os trabalhadores tinham somente de apoderar-se da máquina estatal e usá-la para seus próprios propósitos. Em outras palavras, eles ainda consideravam a conquista da democracia jacobina como o primeiro passo na revolução dos trabalhadores."

Como Brendel mostrou a tarefa de Lenin não era nem um pouco parecido com os ideais comunistas e estava muito mais expressa em um radicalismo burguês provocando uma concentração do poder econômico nas mãos do Estado proporcionando uma espécie de capitalismo de Estado que Lenin não vai por em prática justamente por conta do desenvolvimento do capitalismo na Rússia ser embrionário tendo o plano da NEP(Nova Política Econômica), transformando a sociedade soviética em uma sociedade capitalista, o que vai continuar durante o governo Stalin. Todos os erros expressos por Lenin são replicados por Stalin, mas se prestarmos atenção para não cometer esses erros veremos que eles tem origem de uma contradição sobre o papel do Estado no manifesto e que ao passar do tempo sofreu várias autocríticas. Nesse ponto acaba entrando um questionamento que vamos responder ao longo desse artigo, o marxismo foi criado pelos erros de Marx que já foram criticados (ou não) por ele mesmo?

A resposta para essa pergunta não pode ser outra além de sim. O marxismo de Lenin se baseia exclusivamente nos erros do jovem Marx, principalmente quando presume que uma revolução em um país subdesenvolvido como a Rússia iria ser contrária a formulação de Marx sobre a revolução socialista primeiro nos países super desenvolvidos e se espalhando para o resto do mundo, essa ingenuidade a respeito da teoria de Marx é um claro exemplo de como Lenin ignorou completamente as cartas de Marx a uma camarada russa Vera Ivanovna Zasulitch onde ele diz que para uma revolução na Rússia era necessário transformar a propriedade comunal em propriedade privada primeiro, esse etapismo a respeito da revolução russa não acompanha a vida de Marx, muito pelo contrário é graças a carta de Vera que Marx começa a estudar sobre a situação da Rússia e dos países subdesenvolvidos, a luta de classes na Rússia foi completamente estudada por Marx e a sua ideia etapista é abandonada até porque na Rússia existia propriedade privada, essa terra era usada para por as fábricas de outros países, só bastaria toma-las para o povo. Toda essa evolução no pensamento de Marx não é nada para Lenin, inclusive é completamente ignorado por um motivo bem simples, Lenin apoiava esse etapismo porque sabe muito bem que em uma revolução etapista a etapa capitalista é a primeira e a última a se consolidar, Lenin nunca quis uma revolução socialista só usou do povo para implantar o capitalismo de Estado, veja um trecho dele em "imperialismo fase superior do capitalismo":

"A concorrência se transforma em monopólio. Daí resulta um gigantesco
progresso na socialização da produção. Socializa-se, em particular, o processo
dos inventos e aperfeiçoamentos técnicos."

Vamos responder essa tese no volume 3 do capital:

"Além disso, de nada nos serviria introduzir a concorrência. Esta faz subirem ou baixarem os preços de mercado do trabalho. Suponhamos que a oferta e a demanda de trabalho coincidam. O que é, então, que determina o salário? A concorrência. Mas o que se pressupõe é justamente que a concorrência deixe de ser determinante e que anule seu efeito graças ao equilíbrio de suas duas forças contrapostas. O que encontraremos é, a rigor, precisamente o preço natural do salário, isto é, o preço do trabalho que não é regulado pela concorrência, mas, pelo contrário, a regula."

Como Marx responde Lenin nesse trecho? Lênin esvazia o caráter posto por Marx na categoria "concorrência" quando propõe que a concorrência por si só se transforme em monopólio, essa análise de Lenin esquece que para Marx a concorrência ela é uma mera invenção para explicar certas coisas para a economia burguesa e que não era necessária dentro de uma crítica a economia política, mas essa concepção da concorrência vai completamente de acordo com os ideais do Lenin de desenvolver o capitalismo na Rússia. Até mesmo a categoria imperialismo nada carrega de novo no seu conteúdo, essa "nova fase" do capitalismo é só mais uma parte intrínseca do processo de circulação de mercadorias como Marx propôs n'O Capital (as fases do capitalismo é um assunto a ser trabalhado em um artigo futuro).

O criticismo radical contra Stalin 

Como foi anteriormente, todos os erros contidos em Lenin estão em Stalin foram intensificados. A primeira coisa que vem a cabeça quando os marxistas de outras vertentes quando o assunto é a crítica a Stalin repartem suas visões nos erros históricos como o expurgo ou a invasão da Polônia, mas caem no erro de não se adentrar na sua teoria. No livro "anarquismo ou socialismo" de 1907, Stalin já começa sua jornada teórica na incompreensão da realidade e das diferentes teorias revolucionária, ele diz:

"O eixo da vida social moderna é a luta de classes. No curso dessa luta, porém, cada classe é guiada pela sua ideologia. A burguesia possui sua própria ideologia: o chamado liberalismo. O proletariado também possui sua própria ideologia: é, como se sabe, o socialismo."

Aqui entra o primeiro erro de Stalin que é por si só um erro novo do Stalinismo,  o eixo da vida social moderna é realmente a "luta de classes" mas a afirmação de que cada classe é guiada pela sua ideologia é um axioma fácil de quebrar, como é dito por Marx e reforçado por Bakhtin "a ideologia dominante de uma época é a ideologia da classe dominante" mas para uma ideologia ser dominante significa que ela é a mais popular entre o povo isso também significa que ela é a ideologia usada tanto pela classe burguesa quanto pela classe trabalhadora, as ideologias revolucionárias como as mencionadas não são a ideologia do proletariado, mas sim a sua teoria e prática revolucionária. Voltando para 1906, Stalin escreve no "luta de classes":

"A vida moderna é extraordinariamente complexa! É todo um mosaico de classes e grupos diferentes: grande, média e pequena burguesia; grandes, médios e pequenos senhores feudais; aprendizes, serventes e operários qualificados de fábrica e oficina; alto, médio e baixo clero; alta, média e pequena burocracia; intelectuais de vários gêneros e outros grupos semelhantes: eis o quadro variegado que apresenta a nossa vida!"

Aqui recai sobre Stalin o erro de catalogação de classes, onde trata os intelectuais como uma classe à parte como se Kant não fosse burguês ou que Marx não fosse parte do proletariado. Neste trecho não tem muitos problemas aparentes, mas se olharmos com a devida atenção a gente percebe que essa "vida moderna" na verdade é vida russa moderna (moderna na época), ele comete o erro de universalizar as condições típicas da Rússia. Mais adiante ele diz:

"Como se vê, também os proletários se organizam em classe à parte, com o objetivo de frear a exploração."

Os proletários se organizam em classe à parte? Errado, eles são condicionados a isso, mas a afirmação objetiva de "frear a exploração" também está fundamentalmente errada, somente o proletariado revolucionário tem esse objetivo, o proletariado que não despertou a consciência de classe está fadado a sua alienação até que ele desperte e entenda a qual classe ele pertence. 

Stalin percorre no mesmo erro de Lenin em creditar o socialismo a uma ordem estatal, afirmando diversas vezes o mérito alcançado pelo Estado socialista da URSS, mas se a gente for recorrer a Marx no crítica ao programa de Gotha ele fala que o período socialista não está constituído de Estado algum, todo o Estado é destruído no período de transição do capitalismo ao comunismo de fase inferior (ou socialismo) no qual ele chama de ditadura do proletariado.

Stalin no "problemas econômicos da URSS" defende a possibilidade de que em uma sociedade socialista ainda exista lei do valor e com isso a produção mercantil, em uma passagem ele argumenta dizendo que "a produção mercantil existia antes do capitalismo e continuará depois dele", mas essa tese é de forma fundamental uma tese errônea e carece totalmente da lógica revolucionária. O primeiro ponto que podemos responder é que mercado e produção mercantil são coisas diferentes, antes do capitalismo a produção não tinha como finalidade satisfazer o mercado, isso era feito na pós produção, somente no capitalismo que a produção mercantil passa a existir, onde a atividade produtiva tem (agora sim)  como finalidade satisfazer o mercado a produção mercantil se torna a sim um fim em si mesmo. O segundo ponto que podemos responder é mesmo se a gente considerar que a produção mercantil existia antes do capitalismo, a afirmação na qual diz que ela exista depois dele carrega com sigo um salto lógico muito grande, algo existir antes não significa que vai existir depois; Marx e outros comunistas argumentam que a sociedade futura será uma sociedade sem classes, sem mercado e sem Estado (e estado), todas essas coisas existiam antes do capitalismo, mas todas elas são partes estruturais do capitalismo (do próprio capital), a afirmação que a produção mercantil existia antes do capitalismo que já é uma afirmação falsa não carrega em si nenhuma possibilidade para a afirmação posterior de que a produção mercantil vai existir depois do capitalismo, ou seja, mesmo se analisar a questão com um erro de análise histórica a citação  ainda é falha por essência.

O criticismo radical contra Mao

Não é nada extraordinária a tese que todos os erros comentados até agora de Lenin e Stalin estão contidos em Mao, mas também não é comum a tese que a falta da crítica a esses erros fazem eles retornarem a você de forma acumulativa, e, é isso mesmo que acontece,  conhecer esses erros e não criticar eles fazem da sua teoria e consequentemente sua prática estão fadadas ao fracasso, o criticismo radical nasceu da necessidade de tornar a crítica radical na base de toda teoria revolucionária.

Mao constitui como um grande salto nesses erros com uma característica peculiar, diferente de Stalin e assim como lenin o seus erros mais perigosos são os erros da essência do seu pensamento, teorias como a revolução cultural ou a questão da oposição ao culto de livros são teorias que se mudar o conteúdo essencialmente errado e substituir por algo novo analisado e estudado para a subjetividade e objetividade de cada lugar. 

Para o início da análise a teoria de Mao vale lembrar dos dois artigos publicados no ano de 2024 (ano que escrevo esse artigo que vai ser publicado em 2025) "os problemas filosóficos de Mao zedong" "parte 1 e 2", essa análise crítica é muito mais abrangente do que uma análise a filosofia de Mao e muito mais detalhada, o que significa que comentaremos sobre esses dois artigos aqui e iremos melhorar as críticas feita neles, assim dando um golpe fatal no Mao e no maoismo, não com o objetivo de fazer o maoismo se reconhecer como teoria antirevolucionaria, com o tempo vai ficar claro que os maoistas não reconhecem seus erros. Esse artigo tem como objetivo mostrar como os maoistas são antirevolucionarios e hipócritas no seu dilema de crítica e autocrítica para os novatos no comunismo que podem se sentir encantados com a beleza estética do maoismo, mas também pode servir para os mais experientes no comunismo que querem ter um material verdadeiramente eficiente para criticar os maoistas. No texto "sobre a prática" Mao diz:

"Os marxistas pensam que a atividade dos homens na produção
constitui a base da sua atividade prática, o determinante de todas as outras atividades. O conhecimento do homem depende essencialmente da
sua atividade de produção material, durante a qual compreende progressivamente os fenômenos da natureza, suas propriedades e suas leis, assim como as relações entre ele próprio, homem, e a natureza; ao mesmo
tempo, pela sua atividade de produção, aprende a conhecer em graus
diversos, e também de uma maneira progressiva, certas relações que
existem entre os próprios homens. Todos esses conhecimentos não podem ser adquiridos fora da atividade de produção. Na sociedade sem
classes, todo indivíduo isolado, enquanto membro dessa sociedade, colabora com os demais, entra em determinadas relações de produção com
estes e entrega-se a uma atividade de produção orientada para a solução
dos problemas relativos à vida material dos homens. Nas diferentes sociedades de classes, os membros dessas sociedades, que pertencem às diferentes classes e que, sob formas diversas, entram em determinadas relações de produção, também se dedicam a uma atividade de produção orientada para a solução dos problemas relativos à vida material dos homens. Aí está a fonte principal do desenvolvimento do conhecimento
humano."

A atividade física dos homens na produção realmente constituí a base da sua atividade prática, mas a afirmação "O conhecimento do homem depende essencialmente da sua atividade de produção material", o conhecimento prático é sim algo muito importante, mas não é uma tarefa essencial, o conhecimento adquirido pela prática pode ser adquirido pela teoria, quando o conhecimento prático de uma pessoa é registrado para o mundo, estudar o que essa pessoa tem a oferecer é uma tarefa muito importante pois torna o próprio conhecimento do sujeito mais aprimorado.

Quando colocam a atividade de produção como a fonte principal do desenvolvimento do conhecimento humano acaba recaindo a um erro terrível de análise, qual sociedade humana foi analisada para chegar a tal afirmação? Qual foi o método usado para a pesquisa? Não existe a possibilidade de um estudo sério sobre o assunto levar a conclusões tão precipitadas como essa, a atividade de produção pode ser uma fonte do desenvolvimento do conhecimento humano, mas não é a sua fonte principal, até porque a fonte principal do conhecimento humano é a crítica, quando a crítica atua significa que o conhecimento necessita de correções e acabamos forçados a estudar de todas as formas para corrigir esse problema na prática, assim a crítica se torna o eixo principal de qualquer fonte de conhecimento humano. Mais adiante ele diz:

"Os marxistas pensam que apenas a prática social dos homens pode constituir o critério da verdade dos conhecimentos que o homem
possui sobre o mundo exterior. Assim, somente chegando, na prática social (no processo da produção material, da luta de classes, da experimentação científica), aos resultados esperados é que os homens recebem a confirmação da verdade dos seus conhecimentos"

O conteúdo empirista no pensamento marxista sempre foi evidente desde sua fundação na segunda internacional, porém com Mao esses erros são intensificados ainda mais. A prática social dos homens não pode constituir o critério da verdade dos conhecimentos que o homem tem sobre o mundo exterior,  para isso acontecer seria necessário primeiro ter uma só verdades sobre isso e ela precisaria ser imutável, mas isso não acontece, todas as coisas materiais ou imateriais que dependem do material (como os pensamentos), se movem, evoluem, a verdade de hoje não é a verdade de amanhã, por tanto a prática social dos homens constitui muito mais uma evolução nesses próprios homens do que na premissa falsa do critério da verdade, pois como já mencionamos a verdade de hoje não é a verdade de amanhã, mas não só isso a verdade não é uma, é várias, não existe uma unidade de verdade, mas sim infinitas, e, novamente somente a crítica radical é capaz de fazer a teoria e a prática evoluírem na mesma velocidade que o mundo se modifica. 

No texto "sobre a eliminação das concepções erradas no seio do partido" é mencionado que um dos erros no seio do partido é o subjetivismo, mas a análise proposta pelos marxistas sobre o subjetivismo carece muito de estudo, o subjetivismo é visto como uma tese oposta ao objetivismo, mas elas são aparentemente opostas justamente porque constituem um par na análise, toda análise objetiva ou subjetiva por si só carrega uma grande lacuna que é só preenchida com a outra categoria, sendo assim o sistema de análise objetivista/subjetivista o melhor sistema de análise que temos, então o erro desses membros não é o subjetivismo, mas a falta de estudo do próprio subjetivismo e da objetividade para esse encaixe perfeito, mas nesse ponto constituí um erro do próprio Mao, pois a afirmação de que o subjetivismo é uma concepção errada veio do Mao partindo de uma análise bastante simplista da subjetividade, o que é irônico vindo de uma pessoa que escreveu o oposição ao culto de livros onde ele diz "sem investigação sem direito de falar", tanto que foi por isso mesmo que o nome do artigo é a não oposição ao culto de livros.

Uma das coisas que os maoistas se gabam é que Mao foi criador de um modelo "novo" de revolução, conhecido como a guerra popular prolongada, mas esquecem que o próprio Mao diz que é um modelo específico para a situação chinesa, e, esquecem completamente de investigar e estudar não só esse "novo" modelo de revolução, mas também de estudar a situação típica da sua região, aí temos uma diferença pequena mais substancial para o marxismo, a necessidade do estudo da situação típica da sua região não é a situação do país somente, mas do continente, dos países desse continente, dos estados, das cidades, dos bairros, dos distritos, do campo, etc. E não é só entender a esfera social, mas o estudo geológico, cultural, botânico, medicinal, biológico, etc. São muito importantes para colocar a revolução em prática, entender que a revolução não é só a queda de uma classe (no caso a classe burguesa), mas sim a destruição das estruturas de poder que permitem a opressão de classe, a destruição da reprodução do capital e com isso a destruição do próprio capital em si, para isso uma revolução em cada área da sociedade capitalista tem que ser feita de forma entrelaçada, ou seja, todas as revoluções é uma só revolução,  uma revolução inteligente. A guerra popular prolongada leva em conta uma estratégia militar, mas não carrega consigo uma estratégia revolucionária, pois não tem planos para seus fins ou para possíveis falhas na ação prática, a concepção de Mao que trata a revolução como uma prática militar é a mesma concepção que permitiu os militares na ditadura afirmar que eles fizeram uma revolução e não um golpe, percebe aí que a concepção de revolução para Mao é nada mais do que a concepção burguesa, assim como Lenin e Stalin, Mao expressou o radicalismo burguês na sua mais alta potência.

Em 1963 no texto "de onde vêm as ideias corretas?" Mao zedong passa mais uma vez a glorificação da prática, veja como ele inicia a obra:

"De onde vêm as idéias corretas? Caem do céu? Não. São inatas dos cérebros? Não. Só podem vir da prática social, dos três tipos de prática: a luta pela produção, a luta de classes e os experimentos científicos na sociedade. A existência é sócia do povo e determina seus pensamentos."

A luta pela produção? Qual produção? Mao usa terminologias que sozinhas como ele traz são vazias de conteúdo. A luta de classes realmente é uma prática social, mas ela não acontece da forma como Mao e os marxistas tratam, para o capital não existe diferença substancial entre as classes desde que assegurem a sua reprodução, a luta de classes é um dos mecanismos que asseguram a reprodução do capital. Quando diz "experimentos científicos" Mao está levando a uma concepção mecanicista da ciência que pode satisfazer por um breve momento as ciências consideradas da natureza, mas nada podem fazer com as ciências consideradas sociais, isso se deve ao fato que a experimentação científica não é a única forma de obter conhecimento, prestar atenção em um detalhe de toda a construção científica é o erro típico dos mecanicistas como o Mao. Mas será mesmo que as ideias corretas vieram da prática? Qual foi a prática que tornou a filosofia como uma área muito importante para todas as outras? Nenhuma, o mito da caverna é um exemplo de uma ideia (parcialmente) correta que não veio de nenhum dos três modos descritos a cima por Mao, ou seja, é uma ideia que está essencialmente correta mas não surgiu da prática (digo parcial correta porque ela na sua essência foi usada por muitos teóricos de maneira certeira como é o caso do debord no "sociedade do espetáculo" mas o mito da caverna feito por Platão carrega muitas falhas que futuramente serão criticadas), mas sim do estudo da teoria e da sociedade. Mais adiante ele diz:

"Depois das provas da prática, o conhecimento do povo realizará outro assalto, que é mais importante que o anterior. Porque só mediante o segundo salto poderá provar o que ocorreu de errado e certo no primeiro salto de conhecimento, isto é, das idéias, teorias, políticas, planos e resoluções formadas durante o curso da reflexão da realidade objetiva."

Aqui temos uma repetição do erro da superestimação da prática, dessa vez dizendo que só a prática pode provar os erros e acertos das ideias, teorias, políticas, planos e resoluções formadas durante o curso da reflexão da realidade objetiva. Mas se olharmos para a prática como Mao faz nada temos além do que a ilusão de comprovação, não existem provas na superficialidade da prática, o estudo teórico dessa realidade pode muito bem provar que o erro e os acertos desse "primeiro salto", ou como acham que Kant colocou os racionalistas e os empiristas no bolso? Ele não viu as provas na prática, ele simplesmente elaborou sua filosofia partindo de muito estudo para isso (não falamos sobre o curso natural da realidade, ou seja, as provas da prática de hoje não serão as provas da prática de amanhã, pois já falamos sobre em outro parágrafo).

Mao comete erros na essência de suas teses, mas o espírito revolucionário que ele trouxe é indiscutível, uma pequena parcela nas primeiras semanas do maio de 68 na França cederam ao movimento maoista as suas esperanças de uma revolução, mas a essência contrarrevolucionaria do pensamento de Mao fez com que essas inspirações também caíssem no mesmo erro e em um ainda pior, podemos ver uma clara inspiração filosófica de Mao nos filósofos marxistas francês como althusser e  Badiou, mas nesses filósofos conserva muita coisa de útil, diferente do que acontece na segunda onda do maoismo, quando as guerras populares começaram ao redor do mundo.

O criticismo radical contra o maoismo peruano

O maoismo no peru ou o pensamento Gonzalo, foi de longe a vertente maoista mais influente da história desse movimento, ela mistura o pensamento de Mao, o pensamento de Mariategui e o pensamento de Abimael Guzman ou Gonzalo e com isso surge a tal sintetização do maoismo como é dito por esses grupos reacionários, no texto "acerca do pensamento Gonzalo" o então intitulado presidente Gonzalo expõe no seu texto um estudo simplista das insurgências revolucionárias argumentando que toda revolução precisa de um líder inquestionável para os comunistas e questionável para os não comunistas, aqui se depara com o primeiro problema, a teoria da chefatura como é descrita se torna na prática uma teoria quase religiosa, uma teoria essencialmente dogmática, a figura de um líder inquestionável para os seus seguidores é a mesma ideia passada por uma seita, só de por de frente essa proposta, Gonzalo prova que o seu pensamento não é criador de revolucionários, mas sim de membros de uma seita em nome dele. A necessidade de um líder em si nas insurgências revolucionárias para se transformarem em ações revolucionárias também se constituí em um erro cabal na análise dessas realidades, uma revolução não necessita de um líder, essa é a característica de uma contrarrevolução, em uma revolução e não é em todas necessita de uma ou mais pessoas (geralmente é mais do que uma) para guiar o estudo teórico das massas, pois com estudo teórico da realidade e o estudo da prática e aqui falo do estudo crítico radical, podemos fazer uma revolução mesmo sem um dito chamado líder, como Marx e muitos marxistas divergentes a linha leninista disseram uma vez, a revolução dos trabalhadores é obra dos trabalhadores (e aqui estamos encaixando todas as classes revolucionárias e os membros das classes reacionárias que decidiram romper com a lógica do capital), por tanto a necessidade de um líder revolucionário é em si uma teoria errada posta por Gonzalo e o desenvolvimento para um líder inquestionável é uma contradição ao lema que o próprio expõe de crítica e autocrítica herdada do Mao Zedong ao realizar uma tese fundamentalmente dogmática e na prática uma criadora matriz de seitas pseudocomunistas.


Gonzalo no seminário de filosofia faz seus primeiros esforços para reduzir toda a história da filosofia em duas escolas, o idealismo e o materialismo, mesmo as duas "escolas" sejam uma só, o materialismo parte do idealismo, o materialismo surge nos filósofos "idealistas", inclusive Gonzalo chama os filósofos da primeira onda maoista como filósofos oportunistas, idealistas. Existe também uma clara redução do próprio idealismo quando ele trata o idealismo platônico e o kantiano como se fossem iguais, enfim não tem muito o que ser dito, os erros filosóficos de Gonzalo são os mesmos de Mao e todos voltam as questões já comentadas (os textos que ele fala tipicamente do peru serão criticados nos artigos sobre a realidade peruana).

O maoismo no Brasil acaba caindo nos mesmos erros de Gonzalo, sendo um deles a universalização da guerra popular sem um estudo da realidade brasileira, e, mesmo assim a guerra popular é um erro em si porque trata-se de uma forma militarizada de revolução como foi dito anteriormente, todas as críticas postas no artigo recaem neles. Para finalizar, a nova onda de maoistas surgindo é na sua essência a onda contrarrevolucionaria para combater os comunistas velhos e novos, os maoistas dizem vão vencer porque tem a verdade nas mãos, mas com isso cavam sua sepultura, a verdade não é só uma e nem é imutável, "a verdade" é a criação de um discurso social dominante, logo esse monismo de verdade que os maoistas mostra que eles tem com eles a ordem reprodutora do capital.

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