criticismo radical parte 9: um processo de transformação, a necessidade da mudança de psicologia classista para psicologia crítica radical.
A psicologia recebeu o primeiro golpe dos criticistas radicais nas três obras sobre a psicologia classista, onde trouxe a maior das contribuições para a psicologia, os problemas mentais são problemas estruturais de classe. Mas como tendo o criticismo radical ele precisa sofrer uma metamorfose na sua teoria, uma evolução crítica da psicologia classista, para começar a produzir uma psicologia crítica radical, esse presente artigo não é capaz de conter toda a crítica feita a psicologia classista, mas conseguira começar a contribuir para o avanço teórico e consequentemente o avanço prático da psicologia. As críticas feitas nesse artigo serão divididas em três pontos: a falta de epistemologia; neurociência; ontologia.
A epistemologia é conhecida por dizer o que é ciência ou não, instaurar um método ou contra método científico é o papel fundamental de toda epistemologia, e, a epistemologia da psicologia crítica radical não pode ser outra se não a epistemologia crítica, mas afinal, o que é e como se desenvolve a epistemologia crítica?
A epistemologia crítica adota um processo de suprassunção das epistemologias usadas por outras ciências através da crítica, mas é crítica a si mesma, baseia no desenvolvimento lógico das ciências e do seu desenvolvimento irracional, precisamos desenvolver três pilares fundamentais:
1. Toda ciência precisa do seu próprio método de ação prática, o método da medicina não pode ser o mesmo método da engenharia.
2. Existem ciências que não precisam de método para a sua evolução epistêmica, como é o caso presente da psicologia.
3. Toda filosofia da ciência em particular constituí uma filosofia geral, o criticismo radical.
É muito importante salientar que esses três pilares podem ser quebrados, pois o pilar mestre é o pilar da crítica radical. Agora vamos descrever a filosofia da ciência dentro da psicologia crítica radical.
Epistemologia crítica na psicologia crítica radical.
O primeiro passo fundamental para se compreender a psicologia crítica radical é entender de onde ela surge, a psicologia crítica radical é sobre tudo a filha primogênita da psicologia classista, onde ela ainda carrega alguns de seus pressupostos mas nesse momento de maneira mais flexível se comparado com a outra, a primeira das teses postas na análise é a tese dos problemas mentais de classe, onde os problemas mentais são frutos da sua classe e a forma como tratamos ele com menos ou mais qualidade refletem de forma empírica a sua situação de classe, dito isso, vamos para as evidências e problemas encontrados nessa tese:
A única evidência encontrada no momento é o Burnout no qual é conhecida como síndrome do esgotamento profissional, onde até o presente momento nos estudos feitos pela autora desse artigo só existem evidências de Burnout em pessoas que trabalham, ou seja, um problema psíquico da classe trabalhadora.
O problema a ser visto aqui é, não tem um problema mental caracterizado da burguesia, todos os problemas encontrados dentro dessa classe social são universais, ou seja, aparecem em ambas as classes sociais.
O problema geral na análise feita aqui é pressupor a evidência como critério último dos resultados, mas qual é o problema disso exatamente? O problema é que a Burnout por exemplo que é uma evidência da nossas hipóteses só foi descoberta nos últimos dez anos, o mesmo pode acontecer com os problemas mentais da burguesia, eles só não foram desenvolvidos o suficiente para gerar uma evidência empírica.
O problema da evidência é muito comum de se observar nas fitas ciências do capital, principalmente a prática baseada em evidências, mas, no que consiste esse problema? A PBEP (prática baseada em evidências em psicologia) parte do pressuposto macrossocial das análises, vamos lembrar dos três pilares defendidos pelos membros da PBEP: a melhor evidência clínica disponível, a expertise clínica do profissional, e, as preferências e valores do paciente. Veja que esses três pilares são em si falhos pois se por um a caso a preferência do paciente não condiz com nenhum dos dois pilares a PBEP é descartada pela sua própria lógica.
O grande problema das evidências no entanto é a falta de análise do objeto em si, seguindo o exemplo da PBEP, precisamos pensar o que levou a melhor evidência clínica disponível ser isso, a análise da evidência para averiguar se é uma evidência universal. Outro ponto a ser colocado é a preferência do paciente, muitas vezes a melhor evidência possível não é capaz de tratar um paciente, mas as suas preferências também não, o processo de análise do paciente, da sua vida social e da sua cultura são muito importantes para a análise das evidências.
Tendo em vista os problemas de tentar partir da evidência para chegar no argumento final, na verdade absoluta do objeto, temos outra problemática que acaba travando o caminho das nossas analises, a transformação da natureza, a transformação da natureza modifica o ambiente e as relações sociais, logo modifica a forma como as ciências operam.
Tendo em vista os problemas de tentar partir da evidência para chegar no argumento final, na verdade absoluta do objeto, temos outra problemática que acaba travando o caminho das nossas analises, a transformação da natureza, a transformação da natureza modifica o ambiente e as relações sociais, logo modifica a forma como as ciências operam.
A transformação da natureza, como os desastres ambientais por conta do aquecimento global, influenciam diretamente para a modificação das relações sociais na sociedade, principalmente de famílias mais pobres que frente ao aumento de temperatura, alagamentos, queimadas, tentam buscar uma forma de se relacionar com o mundo no qual eles (os pobres que não tem dinheiro o suficiente para se manter em pé). A modificação social acaba implicando uma mudança psicológica, o tratamento de uma doença psicológica não é mais mesmo, novas doenças, síndromes, transtornos apareceram que na nossa época não apareceriam, enfim, toda formação muda, a psicologia entra em mais uma crise por não saber analisar o sistema do capital e sua relação com os problemas psicológicos, para entender mais como desenvolver essa parte muito importante da epistemologia, vamos pegar um exemplo dos dados de pessoas de São Paulo, primeiro as pessoas com fome, depois a situação de saneamento básico.
Um estudo feito pela rádio agência diz:
"Cerca de 50% da população da cidade de São Paulo vive com algum grau de insegurança alimentar. Esse dado é de um estudo do Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional da capital paulista.
Trata-se de 5,8 milhões de pessoas afetadas, lembrando que, segundo o IBGE, vivem na cidade 11,5 milhões de habitantes.
Segundo o estudo, 12% da população paulistana enfrenta insegurança alimentar grave, que é quando se passa pela experiência da fome, por falta de dinheiro para comprar alimentos.
Já o grupo que sofre de insegurança alimentar moderada, quando existe uma redução na quantidade de alimentos na mesa, afeta 13% da população, o que em números significa 1,5 milhão de pessoas.
E tem ainda a insegurança alimentar leve, caso dos domicílios nos quais foi constatada a preocupação ou a incerteza quanto ao acesso aos alimentos no futuro próximo. Essa fatia equivale a 24% da população - ou um em cada quatro pessoas.
O estudo foi feito em parceria com o Observatório de Segurança Alimentar e Nutricional da Cidade de São Paulo e com 3.300 entrevistas realizadas em nove áreas da capital, entre maio e julho de 2024."
Agora vamos pensar, no que essas grandes taxas de insegurança alimentar estão relacionados com os outros setores, por exemplo o número de pessoas que furtam lojas e mercados para poder se alimentar. Mas a fome e a insegurança alimentar acaba sendo um fator importante para a análise da psiquê humana, a fome é uma questão de saúde mental, segundo o conselho regional de psicologia:
"É importante pensar que a fome denota a alienação de um direito humano básico à alimentação adequada. Conforme somos confrontados com notícias sobre o aumento da então erradicada fome no país, é relevante pensarmos o que leva a esta situação. Ou, melhor dizendo, o que deixou de ser feito para que a fome novamente ocupasse as manchetes dos jornais.
Nilson Lira Lopes, militante do Movimento Nacional da População em Situação de Rua (MNPR) no Rio Grande do Sul, na apresentação da obra intitulada Mas, se a gente é o que come, quem não come nada some! É por isso que ninguém enxerga essa gente que passa fome, descreve:
“A fome é a maior violência que se pode submeter um ser humano e nenhuma calamidade pode desagregar a personalidade humana tão profundamente e em um sentido tão nocivo quanto a fome. Eu sou a própria fome! Sou a fome personificada, porque a fome não está apenas no meu corpo, mas ela está na minha alma, na minha genética, na minha ancestralidade, portanto ela está em todas as dimensões da minha existência."
A trajetória de vida de Nilson nos demonstra quais são os efeitos da fome e da convivência persistente com ela.
“Comecei a trabalhar aos 7 anos de idade para ajudar no sustento dos meus irmãos para que eles pudessem se alimentar, fui uma criança doentia, tive muitos problemas de saúde e de comportamento. Tive convulsões, agonia, ansiedade, depressão, e não conseguia acompanhar meus colegas na escola, sentia dor de cabeça, tonturas, e aos 18 me tornei dependente de álcool, aos 22 fiquei a primeira vez em situação de rua e logo comecei a usar outras drogas.”"
Percebe aqui que a fome e a insegurança alimentar são um quesito essencial para entender a saúde mental dos sujeitos, mas partindo da fome vimos que as relações psicológicas são estruturalmente sociológicas, assim, qual a relação de saúde mental com o ambiente ao redor do sujeito?
O ambiente influência a saúde mental a partir do momento em que somos um só com ele, as relações sociais e o ambiente em si acaba afetando positivamente ou negativamente, como veremos em uma citação de uma matéria da geoambiental:
"A poluição do ar, entre outras ameaças ambientais, é particularmente prejudicial, tanto fisicamente - por danos aos pulmões, coração etc. - quanto mentalmente. Na atualidade, existem evidências crescentes de uma ligação entre certos poluentes do ar e doenças mentais, como depressão, demência, ansiedade e suicídio.
É importante lembrar que boa parte dos quadros patológicos aqui referidos, são desencadeados por fatores ambientais, decorrentes da vida atual nas grandes cidades, refletindo-se, portanto, em verdadeiro impacto ambiental."
Partindo da conclusão de que o corpo, a mente e a natureza são um só ser, conseguimos compreender como se deve partir uma análise da saúde mental humana, agora, também conseguimos comprovar que pessoas ricas não tem tantos problemas mentais causados pela fome ou pelo ambiente, existem aparelhos nesta época que reduzem os impactos sentidos pela pessoa em decorrência desses impactos ambientais, a poluição? Eles respiram o seu próprio ar por tecnologia, os trabalhadores no caso acabam sendo vítimas dessa reprodução predatória do capital que faz a sua saúde mental estar correlata com o desastre ambiental.
Todo esse projeto pode ser definido como epistemologia crítica, eu peguei uma tese minha e destrinchei ela ao máximo encontrando suas falhas e buscando melhorar elas, agora ao em vez do núcleo da argumentação ser "pessoas com classes sociais diferentes tem saúde mental diferente", o núcleo da argumentação é "ao notar que pessoas são uma só com o ambiente no qual vive tanto no sentido social, quanto no sentido naturalístico, os trabalhadores e camponeses aparecem sendo cada vez mais propensos a ter uma saúde mental instável, ou estável para baixo". Nota-se que o núcleo argumentativo mudando, muda também todo o desenvolvimento argumentativo, e, principalmente, as evidências mudam conforme a sua tese apresentada se modifique por conta da crítica, a epistemologia crítica por tanto aparece como parte fundamental para entender o processo de transformação científica nas ciências humanas.
A neurociência é uma das partes fundamentais para estudar a mente humana, vamos analisar como funciona o cérebro humano, suas composições químicas e biológicas, partindo disso vamos observar se é possível fazer uma psicologia que consiga entender todo o complexo do ser, e, principalmente, que consiga entender como esse estudo contribui para a arte da terapia e a ciência da mesma.
A estruturação do cérebro humano
Para além do sistema nervoso central, sistema nervoso periférico e sistema nervoso autônomo, vamos aprender aqui o que faz um neurônio, o que faz cada parte do cérebro, a importância de hormônios feitos pelo sistema endócrino e sua relação com o sistema nervoso. Os neurônios são uma parte muito complexa do corpo humano, onde sua estrutura é a seguinte:
Corpo celular: local onde se encontra o núcleo e na qual se concentra o citoplasma, mas o que é o citoplasma? Para entender isso precisamos voltar um pouco nos conhecimentos biológicos para entender o que é uma célula procarionte e eucarionte e como ter esse conhecimento impacta com esse conhecimento que estamos tentando trazer.
A célula é um organismo estrutural do corpo, onde cada célula tem uma função no corpo, a célula tem duas divisões, procariontes e eucariontes. Uma célula tem na sua estrutura, uma membrana celular (o que delimita a célula), citoplasma (onde estão as organelas), núcleo (responsável para a reprodução), agora, quais são as diferenças entre uma célula procarionte e eucarionte? Segundo a biologia.net:
"Célula eucarionte: Apresenta núcleo circundado por dupla membrana e possui histonas associadas ao DNA e uma razoável quantidade de organelas membranosas. Está presente em animais e plantas, por exemplo.
Célula procarionte: Não apresenta envoltório nuclear separando o material genético, que acaba por ficar disperso no citoplasma, e não possui histonas nem organelas envolvidas por membranas. Está presente em bactérias."
Agora temos noção de que o citoplasma só aparece nas células eucariontes, mas qual é as suas organelas? As mitocôndrias são as organelas responsáveis pela respiração celular, ou, pela produção de energia; O complexo de Golgi são responsáveis pela produção, processamento, empacotamento e envio de substâncias no interior da célula; os retículos endócrinos (RE) são organelas divididas em duas partes, o RE rugoso e o liso, no caso do rugoso tem ribossomos nas paredes externas e é responsável pela síntese de proteínas, o liso não tem ribossomos é responsável pela produção de lipídios (moléculas orgânicas formadas pela associação entre ácidos graxos e álcool). Lisossomos são os responsáveis pela digestão intracelular; peroxissomos são os responsáveis pela oxidação da célula. Agora que entendemos bem como funciona um citoplasma podemos voltar para a análise da estrutura de um neurônio.
Dendritos: ramificações presentes no corpo celular que recebem impulsos nervosos.
Axônio: prolongamento do neurônio por onde os impulsos nervosos são levados para outro neurônio, a transmissão desses impulsos acontece na porção final do axônio chamado de telodendro, por meio de bulbos terminais no qual passam mensageiros químicos.
Muitos axônios são envoltos de células que formam o estrato mielínico ou bainha mielina. Só existem dois tipos de células que podem formar a bainha mielina, os oligodendrócitos e a célula de Schwann ou neurolemócitos, os oligodendrócitos estão presentes no sistema nervoso central e serve como isolante elétrico, os neurolemócitos produzem substâncias nutritivas junto do axônio, essas células formam a neurofibra ou a fibra nervosa.
Os neurônios também tem sua classificação, no qual são:
Bipolares: apresentam um dendrito e um axônio na sua estrutura celular.
Multipolares: apresentam mais de dois prolongamentos, a maioria dos neurônios são multipolares.
Pseudounipolares: apresenta apenas um prolongamento, mas esse se divide em dois, um indo para o sistema nervoso periférico e o outro para o sistema nervoso central.
Os neurônios também tem divisões em funções:
Sensoriais: transmitem informações captadas pelos órgãos sensoriais.
Motores: transmitem os impulsos nervosos aos diversos órgãos.
Interneurônios: estabelecem conexões entre os diversos neurônios sensoriais e motores.
Agora que sabemos as estruturas e funções de um neurônio, vamos entrar na questão do cérebro e suas estruturas. O cérebro é dividido por uma fissura longitudinal em 2 hemisférios, cada um contendo 6 lobos distintos:
1. Frontal
2. Parietal
3. Temporal
4. Occipital
5. Ínsula
6. Límbico
os lobos frontal, temporal, parietal e occipital cobrem a superfície do cérebro, a ínsula está oculta sob a fissura de Sylvius (ou sulco lateral, responsável por separar o lobo frontal e o lobo parietal do lobo temporal, estando presente em todos os hemisférios cerebrais, sendo mais longa no hemisfério esquerdo). O lobo límbico (sistema límbico) é uma região em forma de "C" na borda mais medial de cada hemisfério cerebral; abrange algumas partes dos lobos adjacentes. Embora sejam atribuídas funções especificas a cada lobo, a maior parte das atividades requer coordenação de múltiplas áreas nos dois hemisférios. Por exemplo, embora o lobo occipital seja essencial para o processamento visual, partes dos lobos parietal, temporal e frontal, em ambos os lados, também processam estímulos visuais complexos.
A função cerebral é extensivamente lateralizada. atividades visuais, táteis e motoras do lado esquerdo são controladas predominantemente pelo hemisfério direito e vice-versa. Funções complexas especificas manifestam-se dos dois lados, mas são controladas principalmente por um hemisfério (dominância cerebral). Por exemplo, o hemisfério esquerdo geralmente é dominante para a linguagem e o direito para a atenção espacial.
O córtex cerebral contém:
1. As áreas sensoriais primárias
2. O córtex motor primário
3. Múltiplas áreas de associação, incluindo as áreas de associação unimodais e heteromodais
As áreas sensoriais primárias recebem estímulos somestésicos, auditivos, visuais e gustatórios do tálamo, que recebe os estímulos de órgãos sensoriais especializados e de receptores periféricos. As vias olfativas contornam o tálamo e vão diretamente a áreas especializadas do córtex. Os estímulos sensoriais são processados em áreas de associação relacionadas com um ou mais sentidos.
O córtex motor primário produz movimentos corporais voluntários; as áreas de associação ajudam a planejar e executar atividades motoras complexas.
Cada área de associação unimodal é adjacente à sua área sensorial primária correspondente e processa informações daquela área em um nível mais alto do que a área sensorial primária.
Áreas de associação heteromodal não se restringem a nenhuma atividade sensorial ou motora isolada, mas recebem informações convergentes de múltiplas áreas sensoriais e motoras do cérebro. As áreas de associação heteromodais nos lobos frontal, temporal e parietal integram informações sensoriais, feedback motor e outras informações com as memórias instintiva e adquirida. Essa integração facilita o aprendizado e cria o pensamento, a expressão e o comportamento.
Lobos frontais
Os lobos frontais são anteriores ao sulco central. Eles são essenciais para planejamento e execução de comportamentos aprendidos e intencionais; também constituem o local de muitas funções inibitórias. Existem várias áreas funcionalmente distintas nos lobos frontais:
O córtex motor primário é a parte mais posterior do giro pré-central. O córtex motor primário em um dos lados controla todas as partes móveis no lado contralateral do corpo; 90% das fibras motoras de cada hemisférico cruzam a linha média no tronco encefálico e na medula espinal cervical superior. Assim, as lesões no córtex motor de um hemisfério causam fraqueza ou paralisia, principalmente na porção contralateral do corpo.
A área frontal medial (algumas vezes denominada área pré-frontal medial) é importante na atenção e na motivação. Se lesões extensas na área frontal medial que se estendem a parte mais anterior do córtex (polo frontal), os pacientes ocasionalmente se tornam abúlicos (apáticos, desatentos e acentuadamente lentos para responder).
A área do córtex orbitofrontal ajuda a modular os comportamentos sociais. Os pacientes com lesões orbitofrontais podem se tornar emocionalmente instáveis, indiferentes às implicações de suas ações, ou ambos. Eles podem ser alternativamente eufóricos, divertidos, vulgares e indiferentes a pequenas diferenças sociais. O trauma agudo bilateral nessa parte das áreas pré-frontais pode tornar os pacientes ruidosamente faladores, agitados e socialmente inoportunos. Desinibição e comportamentos anormais que podem ocorrer com o envelhecimento em muitos tipos de demência provavelmente resultam da degeneração do lobo frontal, particularmente do córtex orbital frontal.
O córtex esquerdo posteroinferior frontal (às vezes chamado área de Broca ou área posteroinferior pré-frontal) controla a função da linguagem expressiva. Lesões nessa área causam afasia expressiva (expressão prejudicada da linguagem).
O córtex dorsolateral frontal (algumas vezes denominado área dorsolateral pré-frontal) manipula informações adquiridas muito recentemente — função denominada memória de trabalho. Lesões nesta área podem prejudicar a capacidade de reter informação e processá-la em tempo real (p. ex., soletrar palavras ao contrário, alternar sequencialmente entre letras e números).
Agora vamos passar um pouco pelo nicolelis e sua teoria do cérebro relativistico, para o autor o cérebro é uma máquina complexa na qual equações matemáticas possam prever descobertas neurofisiologicas e psicológicas, mas qual o problema disso? Bem nega todo o complexo social subjetivo da mente humana.
Mas qual a relação de problemas mentais com o cérebro? Essa relação é um pouco complicada em certos aspectos, então demanda uma análise mais elaborada de todas as questões postas aqui, mas para iniciar vamos ver a relação do cérebro com o transtorno depressivo. Um estudo feito pela sessão de psiquiatria da faculdade de Yale mencionou:
"Quando pensamos em depressão, o que vem à mente são sentimentos e emoções – ou, para alguns, a ausência de sentimentos e emoções. Para realmente entender a depressão, no entanto, é importante estar ciente de que a condição também tem aspectos físicos. A maioria das pessoas entende como a depressão se parece por fora, em termos do comportamento de uma pessoa, mas nossa compreensão médica da progressão real da doença e seus tratamentos continua a evoluir.
O que sabemos agora é que, em nível químico, a depressão envolve neurotransmissores, que podem ser considerados mensageiros que transportam sinais entre as células cerebrais, ou neurônios.
“O padrão atual de tratamento para depressão é baseado no que chamamos de 'hipótese da deficiência de monoamina', essencialmente presumindo que um dos três neurotransmissores no cérebro é deficiente ou hipoativo”, diz Rachel Katz, MD , professora assistente de psiquiatria clínica de Yale.
Mas, de acordo com o Dr. Katz, isso é apenas parte da história. Existem cerca de 100 tipos de neurotransmissores no total, e bilhões de conexões entre neurônios no cérebro de cada pessoa."
Aqui percebemos a importância de ter falado dos neurônios e das suas classificações diversas, no entanto aqui tem uma riqueza de informações incrível que gostaríamos de elucidar. Apesar do texto ser escrito por um médico ele não ignora o fator social dessa doença, pode-se observar isso quando o autor diz "Para realmente entender a depressão, no entanto, é importante estar ciente de que a condição também tem aspectos físicos." Percebe que ele dá ênfase aqui que os padrões sociais são importantes para o reconhecimento da doença? A depressão aparece sendo muito mais complexa do que dito aqui, é uma deficiência neuroquimica associada a falta de fabricação de hormônios sendo o mais comum de ser associado a serotonina um hormônio pertencente ao grupo dos hormônios da felicidade, mas não é somente ele que vai causar a depressão, a testosterona durante a menopausa acaba influenciando para os possíveis sintomas depressivos, o estrogênio no pós parto, a depressão pós parto é bastante reconhecida no mundo todo e a falta de estrogênio é um dos principais fatores, o T4 é um hormônio da tireóide que também pode desencadear a depressão por conta de uma descoberta recente de que os distúrbios da tireóide influenciam na formação do transtorno depressivo (além de fatores genéticos, estresse, fatores adversos de médicos, etc.). A depressão é um fator muito importante para compreender como o cérebro e o corpo importam para descobrir e tratar problemas mentais, mas precisamos de outra prova, então eu irei falar um pouco sobre o cérebro durante as crises de ansiedade.
A ansiedade é uma resposta do corpo diante situações de estresse, por ser uma resposta do corpo obviamente vai mexer com o cérebro e assim como a depressão mexe com os hormônios, pessoas com ansiedade apresentam excesso de serotonina no corpo e uma atividade em excesso da amígdala uma estrutura do sistema límbico responsável por dar respostas emocionais a possíveis ameaças, como mencionado os diagnosticados com ansiedade apresentam a amígdala hiperativa. A ansiedade tbm dificulta a criação de novos neurônios desencadeando perda de memória. No entanto a ansiedade também está ligada a fatores sociais, por exemplo o desemprego e o isolamento social podem ser uns dos fatores sociais do transtorno (para uma exposição maior da ansiedade e de outros transtornos, doenças e síndromes psicológicas, farei um artigo específico deles uma hora).
A depressão e a ansiedade apresentam uma mudança neural, mas também tem influências sociais, e, aqui não podemos cair no erro da psicanálise freudiana clássica de desconsiderar uma análise neurocientifica dos problemas mentais, mas também não podemos seguir a luz da PBEP que ignora completamente os fatores sociais e quando mencionam eles é de forma supérflua. No entanto toda investigação científica ou pós científica depende de uma ontologia e assim como a epistemologia, a ontologia aqui apresenta como ontologia crítica, uma ontologia que já vem sido desenvolvida em Marx no ideologia alemã, mas os marxistas aderiram a ontologia superficial de Lukács que não conseguiu compreender todo o aspecto ontológico de Marx.
A ontologia critica
Quando ouvimos a palavra ontologia lembramos da sua origem formal em Aristóteles como o estudo de todas as propriedades do ser, mas através dos séculos, a ontologia foi apropriada por diversos filósofos, Heidegger vai ser responsável por criticar a maioria dos filósofos que tentam investigar o ser por uma ontologia aristotélica, para ele Aristóteles esqueceu de investigar os sentidos do ser e da existência, ir além do estudo da sua propriedade. Hartmann vai ser muito importante para por a ontologia no estudo da natureza, no caso no estudo do ser natural.
No entanto é somente em Marx que a ontologia aparece de maneira crítica, Marx estabelece dois conceitos no ideologia alemã que contribuem para o estudo do ser, a alienação e o estranhamento. Esses dois conceitos são de suma importância para compreender a fundo o ser no seu interior e no seu exterior, contra a interpretação Lukácsiana, a ontologia crítica de Marx aparece como negação e positivação do social como categoria do ser, a respeito da consciência Marx diz:
"(…)a consciência que não se reconhece no mundo e o mundo como realidade
alheia à consciência. De um lado, a consciência pura; de outro, ao alienar-
-se, a consciência convertida em objeto de si mesma, contemplada, mas
não reconhecida. É como se a consciência olhasse para o mundo tal qual
estivesse olhando pela janela e não olhando para si mesma, no espelho
do mundo."
Com essa frase temos duas conclusões, 1) a consciência que não se reconhece como parte da natureza é por essência alienante e se torna objeto de si própria; 2) a consciência é o reflexo da suas relações sociais e do ambiente a sua volta (essa questão é melhor desenvolvida por Engels com a teoria do reflexo). A consciência é uma peça fundamental para entender o ser tanto internamente quanto externamente.
Diferente de Engels e dos marxistas positivistas, Marx discorda da afirmação que o trabalho é um mediador entre a natureza e o social, essa tese de "o papel do trabalho na transformação do macaco em homem" carrega certos problemas pois tenta fazer uma separação que não existe entre a natureza e a sociedade, o social é natural e o natural é o social, como mostrado na parte da epistemologia crítica o ambiente, a natureza impacta de forma significativa o social, por conta dessa unificação já existente durante a história da sociedade humana, o discurso teleológico torna-se incapaz de compreender toda a complexidade da nossa realidade.
A alienação é uma categoria que Marx menciona como:
"O não Eu, que se defronta com o Eu, passa então a ser definido por
São Sancho no sentido de que se trata daquilo que é estranho ao Eu, o es-
tranho. A relação do não Eu com o Eu é, “por isso”, a do estranhamento
[Entfremdung]. Expusemos, há pouco, a fórmula lógica usada por São San-
cho para descrever qualquer objeto ou relação como estranha ao Eu, para
descrever o estranhamento do Eu; em contrapartida, São Sancho também
pode apresentar qualquer objeto ou relação, como ainda veremos, como um
objeto criado pelo Eu e pertencente a ele. Abstraindo, num primeiro momento,
da arbitrariedade com que ele descreve qualquer relação como uma relação
de alienação ou não a descreve (já que Tudo cabe nas equações acima), po-
demos ver, já neste ponto, que, [no caso] dele, não se trata de outra coisa
[senão] de fazer que todas as condições reais, [assim como] os indivíduos reais, sejam constatadas [como alienadas] (para manter, por enquanto, essa
[expressão] filosófica) e convertidas na fraseologia totalmente [abstrata]
da alienação[; em] vez da tarefa de [apres]entar os indivíduos [reais] em
sua alienação [real] e nas condi[ções empír]icas dessa aliena[ção], sucede aqui
[justamente o mes]mo: no lugar do desenvolvimento de todas as condições
[puramente empír]icas, coloca-se a [simples ideia] do estranhamento, [do
Estranho], do Sagrado. [A] introdução discreta da categoria [da ali]enação
(uma vez mais, trata-se de uma determinação reflexiva que pode ser con-
cebida como oposição, diferença, não identidade etc.) recebe sua expressão
última e máxima quando “o Estranho” é convertido, por sua vez, em “o
Sagrado”, sendo a alienação convertida na relação do Eu com alguma coisa
qualquer na qualidade de o Sagrado. Para aclarar esse processo lógico, damos
preferência à relação de São Sancho com o Sagrado, já que esta é a fórmula
predominante, e comentamos de passagem que “o Estranho” é também
concebido como “o Existente” (per appos[itionem]), como aquilo que existe
sem Mim, que existe independentemente de Mim, per appos., que é autô-
nomo devido à Minha falta de autonomia, de modo que São Sancho pode
descrever Tudo o que existe independentemente dele, por exemplo o Monte
Block, como o Sagrado"
Neste trecho temos algumas funções fundamentais, o estranhamento sendo o processo de relação entre o Eu e o não Eu (futuramente Marx irá desenvolver essa questão no capital, no conceito de fetichismo). A alienação aparece aqui como o processo relacional do Eu com o sagrado, mas não só que é sagrado por si, mas sim o que a consciência transforma em sagrado, a mercadoria e a reprodução do capital aparecendo de diferentes formas, desde suas necessidades básicas até o lazer são transformados em mercadoria e a alienação junto com o fetiche aparece como forma de naturalizar a forma mercadológica.
A ontologia de Marx vai voltar com força na sua obra mestra, o capital, Marx desenvolve uma crítica da nossa sociedade do capital e consegue de forma brilhante responder todas as considerações feitas por Lukács sobre sua ontologia, no segundo capítulo do volume 1, Marx diz:
"As mercadorias não podem ir por si mesmas ao mercado e trocar-se umas pelas outras. Temos, portanto, de nos voltar para seus guardiões, os possuidores de mercadorias. Elas são coisas e, por isso, não podem impor resistência ao homem. Se não se mostram solícitas, ele pode recorrer à violência; em outras palavras, pode tomá-las à força37. Para relacionar essas coisas umas com as outras como mercadorias, seus guardiões têm de estabelecer relações uns com os outros como pessoas cuja vontade reside nessas coisas e que agir de modo tal que um só pode se apropriar da mercadoria alheia e alienar a sua própria mercadoria em concordância com a vontade do outro, portanto, por meio de um ato de vontade comum a ambos. Eles têm, portanto, de se reconhecer mutuamente como proprietários privados. Essa relação jurídica, cuja forma é o contrato, seja ela legalmente desenvolvida ou não, é uma relação volitiva, na qual se reflete a relação econômica. O conteúdo dessa relação jurídica ou volitiva é dado pela própria relação econômica. (…)
(...)
O possuidor de mercadorias se distingue de sua própria mercadoria pela circunstância de que, para ela, o corpo de qualquer outra mercadoria conta apenas como forma de manifestação de seu próprio valor. Leveller [niveladora]a e cínica de nascença, ela se encontra, por isso, sempre pronta a trocar não apenas sua alma, mas também seu corpo com qualquer outra mercadoria, mesmo que esta seja munida de mais inconveniências do que Maritornes. Se à mercadoria falta esse sentido para a percepção da concretude dos corpos de mercadorias, o possuidor de mercadorias preenche essa lacuna com seus cinco ou mais sentidos. Sua mercadoria não tem, para ele, nenhum valor de uso imediato. Do contrário, ele não a levaria ao mercado. Ela tem valor de uso para outrem. Para ele, o único valor de uso que ela possui diretamente é o de ser suporte de valor de troca e, portanto, meio de troca"
Nesse ponto aparece de forma sútil uma questão de importância máxima, ao introduzir que a mercadoria não tem nenhum valor imediato, ele quebra com duas argumentações, a primeira argumentação é apresentada como a forma marginalista onde a mercadoria tem um valor imediato em si, e, o consumidor é o seu formador de preço, o que não se apresenta aqui por conta da seguinte conclusão de Marx, o proprietário das máquinas e das mercadorias são os que definem os preços das mercadorias, a tese da escola austríaca acaba sendo desbancada por inteiro só nessa citação, Marx no século XIX consegue ver a falha de usar de teses individualistas como parâmetro de formação do preço das mercadorias, da formação do seu valor em si. O outro ponto a ser apresentado aqui é a falha na argumentação teleológica que apresenta o trabalho como mediador entre o natural e o social, o problema nessa classificação é que Marx já definiu no primeiro capítulo que o trabalho é uma mercadoria e se é mercadoria ele não pode ser uma mediação, pois isso implica que o trabalho seja a única mercadoria capaz de se autopromover valor em si, no caso a sua função como mediador seria pela lógica Marxiana, impossível.
A ontologia crítica porém não vem só de Marx, ou seja não para nele, ela é desenvolvida pelo Robert Kurz no seu livro a razão sangrenta, onde ele forma um novo salto na ontologia, ele diz:
"O fato de indivíduos produtores de mercadorias se "submeterem a outros indivíduos" por meio da abstração da forma-mercadoria é simplesmente falso como afirmação isolada. Semelhante concepção poderia valer no máximo enquanto a forma-mercadoria dos sujeitos ainda não estivesse totalmente desenvolvida, enquanto portanto o restante das demais tradições pré-modernas fossem ainda ineficazes. Enquanto restava dúvida de quem trataria quem por "senhor", a própria abstração da mercadoria ainda não constituía em pleno sentido para os indivíduos "o conteúdo social de sua atividade". Hoje em dia o mestre-de-obras diz com toda a cordialidade para seu ajudante: "Senhor X, traga-me por favor do depósito o cavalete e 20 paletas com os prospectos". Uma conversa com o pronome "você" (du), por outro lado, não significa uma diminuição, mas a confiança igualitária (pense-se também na hierarquia francamente absurda do aperto de mãos em muitas empresas ). Os mais recentes programas de administração operam de caso pensado com tais formas de interação igualitária."
Nesse ponto Kurz está criticando as teorias da dominação utilitaristas da modernidade (inclusive do marxismo), neste momento Kurz coloca uma coisa muito importante, a transformação do sujeito em mercadoria não ocorre pelo sujeito ou pelo outro, mas pelas estruturas complexicas do capital no qual transforma cada tarefa do indivíduo em mercadoria. Levando para uma esfera ontológica, Kurz é o grande descobridor da ontologia crítica de Marx, mas como a ontologia crítica atua? O ser como biologicamente social é o ponto principal da ontologia crítica, uma ontologia contra a ontologia de Hartmann e Lukács, o discurso teleológico se apresentou aqui como discurso falho.
A ontologia crítica tem três pontos fundamentais: a adesão ao modelo filosófico do criticismo radical; a consideração de que o trabalho não pode ser o mediador entre a natureza e o social; e o mais importante de todos, o ser não pode ser conhecido por nenhuma ontologia que ignore algo no ser ou no seu escopo, inclusive não pode ignorar o fato que a categoria de ser, e todas as outras que se originam dela, é abstrata, sim abstracto porque essa categoria de ser é uma construção histórica e regional do ocidente, uma forma de autovalorização do sujeito em uma nova categoria, a de ser, mas ser é ser o que? Qualquer um pode ser considerado ser, a essência de ser nunca foi definida e carrega diversas funções ao decorrer do tempo, no capitalismo do século passado, ser carregava uma função bastante clara, a de produção alienante das massas, o ser acaba sendo usado para os discursos de valorização do capitalismo, percebe aqui que outras categorias como a família também são abstratas, qual a função da família? Bem essa pergunta é complicada, uns vão dizer acolhimento, educar ou disciplinar, mas nenhuma dessas formas é certa, a família não pode ter funções específicas por um simples motivo, esse conceito não é universal no livro "políticas do sexo" a Gayle Rubin mostra como em sociedades indígenas aparece como um conceito completamente diferente de família no capitalismo, para o capitalismo a família é uma máquina formadora de mercadorias, no entanto família não aparece aqui no capitalismo como uma unidade categorial, a forma de tornar o indivíduo familiar como mercadoria é diferente em cada região do capitalismo (para uma exposição maior sobre leia a parte 14 do sobre o criticismo radical).
As três categorias agora completamente elucidadas podem apresentar como a psicologia crítica radical começa a ser a psicologia de combate revolucionário, se mostra como uma revolução na psicologia dentro do escopo da revolução inteligente, mas antes de terminar o artigo precisamos falar um pouco sobre a importância da psicanálise e a necessidade que a consciência crítica tem de romper com a psicanálise.
A importância da psicanálise: entre adesão e ruptura
Dentro de um cenário de consciência crítica a psicanálise aparece como uma parte dessa história que precisa continuar sendo isso: história. A psicanálise surge com Freud quando ao estudar a histeria percebe que o fator biológico não pode resolver por si só os problemas psicológicos, segundo Freud psicanálise é:
"PSICANÁLISE é o nome de (1) um procedimento para investigação de processos mentais que são quase inacessíveis por qualquer outro modo, (2) um método (baseado nessa investigação) para o tratamento de distúrbios neuróticos e (3) uma coleção de informações psicológicas obtidas ao longo dessas linhas, e que gradualmente se acumula numa nova disciplina científica." (FREUD, 1923/2006, p. 253).
Entrando por menores, para Freud a psicanálise tem um caráter duplo um método investigativo e um método de tratamento, no livro "o mal estar na civilização" Freud diz:
"Por um lado, a religião é aí colocada em oposição às duas maiores realizações do ser humano; por outro lado, afirma-se que ela pode representar ou substituir ambas, no que toca ao valor para a vida. Se quisermos privar o homem comum de sua religião, tudo indica que não teremos a nosso favor a autoridade do poeta. Tentaremos um caminho particular para a apreciação do seu dito. A vida, tal como nos coube, é muito difícil para nós, traz demasiadas dores, decepções, tarefas insolúveis. Para suportá-la, não podemos dispensar paliativos. (“Sem ‘construções auxiliares’ não é possível”, disse Theodor Fontane.)* Existem três desses recursos, talvez: poderosas diversões, que nos permitem fazer pouco de nossa miséria, gratificações substitutivas, que a diminuem, e substâncias inebriantes, que nos tornam insensíveis a ela. Algo desse gênero é imprescindível. É para as distrações que aponta Voltaire, ao terminar seu Cândido com a sugestão de cada qual cultivar seu jardim; uma tal distração é também a atividade científica. As gratificações substitutivas, tal como a arte as oferece, são ilusões face à realidade, nem por isso menos eficazes psiquicamente, graças ao papel que tem a fantasia na vida mental. Os entorpecentes influem sobre nosso corpo, mudam a sua química. Não é fácil ver o lugar da religião nesta série. Teremos que lançar mais longe o olhar."
Nesse ponto Freud foi muito importante porque trouxe para sua tese o debate da religião como o ópio do povo, uma contradição de todo conhecimento humano, o discurso religioso é um entorpecente da sociedade capitalista, ela serve para afastar o sujeito da real razão do sofrimento, uma estratégia que althusser vai chamar de aparelho ideológico do estado, eu chamo de estrutura do capital. Apesar de todas as realizações de Freud a psicanálise não se rendeu só a Freud, Lacan foi um dos grandes responsáveis por trazer a tona a linguagem no estudo da saúde mental.
Lacan vai dizer que a falta do objeto é o que torna o desejo o que ele é: desejo. Outra teoria conhecida de Lacan é que a língua veio antes da consciência, antes da inconsciência, essa tese vinha propensa da formulação, sem a língua a consciência não pode existir. O conceito de sintoma embora ele tenha atribuído a Marx é muito importante ressaltar que para Lacan o sintoma era visto de três formas:
Como mensagem endereçada ao outro (mensagem-metáfora): é através da palavra que se desvela o sentido que a mensagem-sintoma escancara e esconde; o sintoma só tem sentido através de sua relação com outro significante. Portanto, o sintoma é uma linguagem, cuja fala precisa ser libertada. E é somente no contato com o outro que isso pode acontecer.
Como modo de gozo: mesmo depois de ter seu sintoma decodificado pela interpretação, o sujeito pode não querer renunciar a ele. É a esse resto do desvendamento significante que Lacan dá o nome de gozo, confirmando Freud que já havia demonstrado que o neurótico, ainda que demande a cura, não só não a quer como se agarra ao gozo do seu sintoma.
Como produção e invenção do sujeito: um sintoma é um saber de si inconsciente e o papel da psicanálise não se limita a desvelar o sentido disso, mas deve trabalhar para neutralizar a cadeia significante que alimenta a produção do sintoma.
Assim, se pudermos olhar para o indivíduo além de seus sintomas e comportamentos, e nos interessarmos por quem ele realmente é e o que ele nos conta, tentando descobrir juntos do que ele realmente está falando, ajudaremos demais nesta jornada de autoconhecimento.
Veja, o sintoma é resumidamente a análise do real visto inconscientemente, para Lacan o sintoma é uma camada de formação do sujeito conhecida como auto alienação, um esquema processual muito complexo, mas que foi definida como a capacidade de reproduzir a lógica do nosso sistema social. Outro conceito feito por Lacan é o mais de gozar ou objeto "a", sendo assim o objeto de desejo do outro que através do processo de reflexo ou seja de enxergar o objeto de desejo do outro como o seu próprio objeto de desejo começa a liberar a falta de gozo (ou mais de gozar), criando também uma falta em busca de completude. Porém não é só de psicanálise que vive a psicologia crítica radical, o psicológo Klaus holzkamp lança diversas críticas a psicanálise uma inclusive no seu livro "ciência marxista do sujeito tomo II":
"De início, quero deixar claro que considero correta a apreciação de
que a psicanálise é essencialmente biologicista, defende o individualismo,
psicologiza os conflitos sociais, postula uma contradição universal entre a
sociedade opressora e um indivíduo não social determinado por pulsões, favorece o irracionalismo etc. Assim, partilho da opinião de que todas as
tentativas de complementar o marxismo com conceitos psicanalíticos à ma-
neira freudomarxista, para que o tornem “apto” para a compreensão dos
motivos do agir dos indivíduos ou das massas, se darão, necessariamente,
às custas das bases científicas e ideológicas do marxismo."
A crítica da psicanálise exposta aqui é brilhante pois é da psicanálise como um todo, a maneira Lacaniana de psicanálise ainda é por si muito individualista, a diferença entre Lacan e os freudianos é a consideração mínima com os grupos sociais, mas de resto é uma prática idêntica (a olho nu, Lacan vai trabalhar sobre o conceito de psicanálise linguística também), a ideia de que a psicanálise psicologiza problemas sociais é uma pauta muito interessante pois isso é verdade, Freud no "mal estar na civilização" faz uma análise interessante sobre como a psiquê humana afeta as relações sociais inclusive os seus problemas, o que está sendo criticado aqui é justamente isso, não é a psiquê humana que influência as relações sociais, mas as relações sociais que influenciam a psiquê humana.
A relação entre a psicologia crítica e a psicologia crítica radical é muito próxima, mas carrega algumas divergências de análise de casos, de um lado apresenta uma análise supérflua desconsiderando os conhecimentos de diversas outras área, e, do outro lado uma Psicologia revolucionária que faça parte do processo do combate a cerca da abolição do capital. Contudo para finalizar esse presente trabalho é importante ressaltar que a psicanálise é muito importante para formação da consciência crítica, mas para o desenvolvimento da mesma é necessário uma ruptura com a psicanálise.
Considerações finais
Os três pontos fundamentais foram de suma importância para a criação da psicologia crítica radical, mas muita coisa ficou em aberto pois terá artigos exclusivos para elucidar todos esses pontos, a psicologia crítica radical continuará avançando entorno da crítica radical presente no seu núcleo científico.
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