o criticismo radical parte 2 sobre a critica a um camarada e a leitura epistemológica do capital (introdução as leituras não convencionais do "das kapital").

O criticismo radical ainda segue muito sombrio mesmo com o primeiro artigo o explicando, isso se deve ao fato de ser um pensamento crítico complexo, onde tenta responder todas as perguntas possíveis,  extrair e construir de termos já existentes algo mais complexo, criticar a si mesmo e a outro alguém.


Dentro desse artigo eu irei responder algumas críticas feitas por um(a) anônimo(a) e depois desenvolver ainda mais o criticismo radical.


O primeiro argumento a ser criticado aqui é sobre a minha dita "confusão com termos", nisso se segue para mostrar que é o contrário, o leitor que mal interpretou o texto.


O autor da crítica diz: 

"Eu não consigo pensar em como não-homogeneidade não implicaria em heterogeneidade. Quanto à linearidade e não-linearidade, parece uma figura de linguagem menos problemática, mas ainda falta clareza — as figuras de língua são sempre assim, é óbvio; quanto a sua afirmação, de que "no estudo do método se encontra qual foi o objeto", parece-me o contrário, uma vez que o método, por ter matriz hegeliana, parte sempre e sem exceção da coisa, imediatamente. Entendo quando você diz que "o método se torna o objeto de estudo de outrem", porque Marx aparece como mediador entre o estudante e a coisa (o capitalismo), mas isso entraria em conflito com a sua própria afirmação de que "não existe uma separação real" entre o método e a coisa. Mas, méh, isso já entraria em uma questão cara até mesmo para a historiografia, no caso das fontes históricas; sobre a divisão, varia de para quem se pergunta. Entendo o último Marx como d'O Capital. Entendo como jovem Marx o período que antecede Contribuição à Crítica da Economia Política, iniciando-se em Sobre a Questão Judaica."


Aqui a autora das críticas começou a adentrar em dois erros comuns, o problema da redução linguística e o problema da causalidade, como o objetivo aqui é responder as críticas eu irei passar a elas uma enorme dedicação e cuidado.

Sobre o problema da redução linguística podemos definir como também o problema da duplicidade inexistente na filosofia da linguagem, e, o que seria isso? Simples, falar que a negação de A supõe B de todas as formas, bem isso está correto se vc pensar que só exista A e B, mas dentro de A se pressupõe B.


Para ficar mais claro, troque A por homogeneidade e B por heterogeneidade.

Mas dentro dessa explicação temos um problema epistemológico causado pela filosofia do senso comum; como a heterogeneidade pode estar contida na homogeneidade e não estar como seu oposto?

Para responder a essa pergunta usarei da lógica, se X é negação de Y então podemos dizer que Y quando negado pressupõe X? Sim, mas isso acontece sobre uma esfera reduzida, onde só exista X e Y sendo assim uma dualidade, o que não acontece, a forma usual nesta situação está correta caso se trata-se de um sistema fechado, mas a situação inserida "a heterogeneidade está contida na homogeneidade" é um sistema aberto onde carrega elementos não determinados pela questão mas são naturais desse tipo de sistema.

Bem quando eu falo "dentro de uma linha eu encontro duas" isso é ilógico? Não, dentro de um esquema de regressão infinita dentro de uma unidade de fio pode estar contido bilhões de fios; a mesma coisa acontece com a heterogeneidade e a homogeneidade, a heterogeneidade depende da existência da homogeneidade, mas não por ser a negação desta, mas por ser contida dentro dela, a homogeneidade quando negada ela se reparte em dois pedaços abrindo espaço para o que está contido se manifestar, no caso a heterogeneidade.

Tendo em vista que a não homogeneidade só quebra a homogeneidade em um processo de negação, libertando a heterogeneidade, temos outra questão importante, a não homogeneidade é transformada em heterogeneidade? Bem, lembram do que foi dito anteriormente? A situação aqui é um sistema aberto que tem elementos implícitos (e naturais) a esse tipo de sistema e situação.

Quando a não homogeneidade quebra a homogeneidade no meio libertando o que está contido existe uma barreira que impede da não homogeneidade se transformar em uma heterogeneidade, o elemento conhecido como sunyata, no caso é um não elemento pois sunyata trata de um conceito budista para se referir ao vazio ou vascuidade. 

O sunyata aqui sendo utilizado como o vazio conceitual serve de forma excelente como uma barreira impedindo que um conceito vire outro, em termos práticos ao dizer "Marx não é homogêneo"  existe uma negação a algo, no caso a negação a homogeneidade, mas termina por aqui, a negação de um não representa a afirmação de dois, pois a negação não se transforma na afirmação de algo.


Dentro do discurso feito pelo autor da crítica temos o problema da causalidade, e, o que consiste esse problema?

Vamos pegar um sistema fechado, se por um acaso X se transforma em Y a causa de Y é X. Agora vamos entrar em um sistema aberto, se X se transforma em Y, não necessariamente X causa Y,  mas é preciso de X para Y existir, vamos pegar um exemplo dentro da filosofia, ao dizer "Marx usava a matriz hegeliana" (o que só é verdade nós seus escritos da juventude), você pressupõe que a filosofia Marxiana dependa da filosofia hegeliana para existir, mas isso de fato acontece? Bem essa análise sobre a causalidade da filosofia Marxiana é em si errada, e, por que errada? Porque existe uma série de descaminhos, Hegel foi sim muito importante para Marx, mas não foi o mais impactante, no entanto mesmo Hegel representando muito pouco para a formação filosófica Marxiana tirar ele da equação seria a mesma coisa que tentar descobrir a cura do câncer usando de base a geografia, ou seja não faz sentido, se não ficou claro pela explicação por exemplo, segue a explicação sistemática, no sistema fechado X se transforma em Y, logo X causa Y, no entanto em um sistema aberto X se transforma em Y, mas X não causa Y, o Y é a causa de uma série de fatores A B C F Z X etc. Excluir um dos fatores da análise é o que consiste o problema da causalidade, no caso a autora da crítica comete isso ao só falar sobre a influência da filosofia hegeliana na filosofia de Marx.


Deixando as críticas de lado vamos começar a desenvolver ainda mais o criticismo radical.

A filosofia da linguagem de Bakhtin e a epistemologia Marxiana no capital.


É bem comum entender a filosofia de Marx como uma filosofia social, mas ela não se exclui só a isso, o capital é uma obra muito interessante porque existe múltiplas leituras, aqui eu vou apresentar uma leitura epistemológica do livro do capital correlacionando com o dialogismo Bakhtiniano.

Marx diz:

"A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso. Mas essa utilidade não flutua no ar. Condicionada pelas propriedades do corpo da mercadoria [Warenkörper], ela não existe sem esse corpo. Por isso, o próprio corpo da mercadoria, como ferro, trigo, diamante etc., é um valor de uso ou um bem. Esse seu caráter não depende do fato de a apropriação de suas qualidades úteis custar muito ou pouco trabalho aos homens. Na consideração do valor de uso será sempre pressuposta sua determinidade [Bestimmtheit] quantitativa, como uma dúzia de relógios, 1 braça de linho, 1 tonelada de ferro etc. Os valores de uso das mercadorias fornecem o material para uma disciplina específica, a merceologia. O valor de uso se efetiva apenas no uso ou no consumo. Os valores de uso formam o conteúdo material da riqueza, qualquer que seja a forma social desta. Na forma de sociedade que iremos analisar, eles constituem, ao mesmo tempo, os suportes materiais [stofflische Träger] do valor de troca." (O Capital)


A leitura tradicional desse trecho entende somente a superfície da sua complexidade, Marx aqui quando condiciona que a mercadoria tem valor por conta do seu corpo enfatizando a importância corpórea da mercadoria.


Mas dentro desse trecho existe uma epistemologia por trás, para isso eu vou precisar utilizar de dialogismo entre Marx e Wittgenstein :

"A verdade de certas proposições empíricas pertence ao nosso sistema de referência."(Sobre a certeza).

O que temos representado nessa formulações de Wittgenstein? Simples, para Wittgenstein a verdade de certas coisas para um sujeito só pertence ao seu sistema de referência, ou, o seu conhecimento empírico.

Mas, qual é a correlação entre esse trecho e o anterior feito por Marx? Assim como a utilidade da mercadoria depende do corpo de mercadorias, a verdade de certas proposições empíricas pertencem a um sistema de referência, esse sistema de referência é esse corpo da verdade, por exemplo, quando o professor pergunta, qual é a fórmula da água? E você responde H2O, essa resposta é verdade, mas ela só se torna verdade por conta que é conhecido, foi analisado e estudado por alguém que passou para outro até chegar no seu professor e ele passar para você, construindo para si um sistema de referência.

Dentro desse dialogismo produzido entre Wittgenstein e Marx mostra como no capital mesmo não sendo a proposta de Marx nesse livro, existe nele uma leitura epistemológica.

Para construir uma relação entre Wittgenstein e Marx precisamos   desenvolver a relação de Bakhtin com esses dois.

O Bakhtin no "marxismo e filosofia da linguagem" diz:

"É claro que o sistema lingüístico, no sentido acima definido,
é completamente independente de todo ato de criação individual,
de toda intenção ou desígnio. Do ponto de vista da segunda
orientação, não se poderia falar de uma criação refletida da língua
pelo sujeito falante. A língua opõe-se ao indivíduo enquanto
norma indestrutível, peremptória, que o indivíduo só pode aceitar
como tal. No caso em que o indivíduo não integrasse nenhuma
forma lingüística enquanto norma peremptória, esta forma deixaria então de existir para ele como forma da língua para tornar-se
simples potencial de seu aparelho psicofísico individual. O indi-
víduo recebe da comunidade lingüística um sistema já constituído, e
qualquer mudança no interior deste sistema ultrapassa os limites de
sua consciência individual. O ato individual de emissão de todo e
qualquer som só se torna ato lingüístico na medida em que se ligue a
um sistema lingüístico imutável (num determinado momento de sua
história) e peremptório para o indivíduo.
Quais são, pois, as leis que governam este sistema interno da
língua? Elas são puramente imanentes e específicas, irredutíveis a leis
ideológicas, artísticas ou a quaisquer outras. Todas as formas da
língua, consideradas num momento preciso (ou seja, do ponto de vista
sincrônico) são indispensáveis umas às outras, completam-se
mutuamente, e fazem da língua um sistema estruturado que obedece a
leis lingüísticas específicas. Estas leis lingüísticas específicas, à
diferença das leis ideológicas – que se referem a processos cognitivos,
à criação artísticas, etc. – não podem depender da consciência
individual. Um tal sistema, o indivíduo tem que tomá-lo e assimilá-lo
no seu conjunto, tal como ele é. Não há lugar, aqui, para quaisquer
distinções ideológicas, de caráter apreciativo: é pior, é melhor, belo
ou repugnante, etc. Na verdade só existe um critério lingüístico: está
certo ou errado; além do mais, por correção lingüística deve-se
entender apenas a conformidade a uma dada norma do sistema
normativo da língua. Não se poderia, por conseguinte, falar em “gosto
lingüístico” nem em verdade lingüística. Do ponto de vista do
indivíduo, as leis lingüísticas são arbitrárias, isto é, privadas de uma
justificação natural ou ideológica (por exemplo, artístico). Assim,
entre a face fonética da palavra e seu sentido, não há nem uma
conexão natural nem uma correspondência de natureza artística. Se a
língua, como conjunto de formas, é independente de todo impulso
criador e de toda ação individual, segue-se ser ela o produto de uma
criação coletiva, um fenômeno social e, portanto, como toda
instituição social, normativa para cada indivíduo"


Nessa citação podemos observar uma teoria famosa de Bakhtin o dialogismo, e, no que se consiste essa teoria? uma serie de inter-relações com o discurso, a realidade, a ideologia, a interação o contexto, a compreensão e a significação. Nessa inter-relação, tomamos consciência dos fundamentos filosóficos e percebemos melhor a relação com outras áreas do conhecimento. (vale lembrar que para Bakhtin a relação ocorre entre interlocutores e não é uma mera reprodução ou repetição do discurso, mas é algo intrínseco ao falar e escrever e metamorfo pois sempre estamos atualizando o dito).


Qual a semelhança entre Marx, Wittgeinstein e Bakhtin? assim como Marx fundamentou uma epistemologia ao dizer que a utilidade de uma mercadoria depende do seu corpo correlato com a afirmação de Wittgenstein que a verdade depende do seu sistema de referencias, Bakhtin nos mostra que Marx no capital vai muito longe na construção de uma epistemologia:

"O valor de troca aparece inicialmente como a relação quantitativa, a proporção na qual valores de uso de um tipo são trocados por valores de uso de outro tipo6, uma relação que se altera constantemente no tempo e no espaço"

Como podemos ver o valor de troca aparece de forma inicial como a proporção na qual valores de uso de um tipo são trocados por valores de uso de outro tipo, bem, agente já sabe que o valor de uso de uma mercadoria está condicionado ao seu corpo e que isso é relacionado com a questão da verdade empírica em Wittgenstein, o que o valor de troca pode nós trazer de útil para um debate epistemológico? através de Bakhtin podemos ver que um sistema linguístico entra em inter-relação com outro sistema através de dialogismo o próprio dialogismo é a inter-relação entre os dois sistemas, agora se fomos parar para analisar o valor de troca é também uma inter-relação entre dois sistemas no caso entre dois corpos, o corpo de uma mercadoria constituindo um valor de uso de um tipo e o corpo de outra mercadoria constituindo o valor de uso de outro tipo.


apresentamos aqui como a leitura do capital ao ser melhor analisada vai além da esfera da critica da economia politica, ela pode ter uma leitura epistemológica muito interessante de ser vista, mas ainda existem inúmeras leituras do capital que não cabem nesse artigo, mas que vai ser desenvolvida nas próximas partes, o criticismo radical mostrará leituras não convencionais dessa obra tão complexa.



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