criticismo radical parte 3 a diferença entre leitura e interpretação, exemplos de leituras do capital

Como foi demonstrado no artigo passado a leitura do capital é muito complexa, tendo uma leitura econômica (de visão crítica a economia), uma leitura epistemológica, uma leitura sociológica, etc., existem várias leituras possíveis para o capital e nesse artigo iremos abordar as leituras não convencionais de abordar o capital, mas primeiro precisamos entender a diferença de nova leitura e nova interpretação.


A nova interpretação se diz respeito a forma como vc lida hermeneuticamente com uma leitura. Já a leitura é um sistema de interpretações, por exemplo:


Na minha visão Marx ao dizer Y pode ser X (hermenêutica ou interpretação)

Marx ao dizer Y nós trás uma nova visão sobre X (leitura)


A leitura apresenta uma forma diferente de ver a obra, como por exemplo você ter uma leitura política da obra da branca de neve, não é uma nova interpretação, é uma nova leitura, para ser interpretação tem que estar dentro do escopo feito por esse sistema de interpretações (leitura), a branca de Neves é um conto de fadas por tanto uma nova interpretação tem que estar dentro de uma leitura do conto de fadas, a não ser que essa nova interpretação entre dentro de outro sistema de leituras.

A visão gastronômica do capital de Marx 

A leitura gastronômica do capital é a leitura não convencional mais ramificada, no entanto é a mais baixa em nível de profundidade

No livro "o que é gastronomia?" é dito:


"Para Brillat-Savarin, o filósofo gourmet, gastronomia é estilo de vida, o resumo do mundo. É a diferença entre o prazer de comer e o prazer da mesa. O prazer de comer é a sensação atual e direta de uma necessidade que encontra satisfação. O prazer da mesa é a sensação refletida que nasce das várias circunstâncias, dos atos, do local, das coisas e das pessoas que estão presentes à refeição. Entretanto, a gastronomia, como as moedas, apresenta dupla face e seu valor depende diretamente do quanto vale cada um dos lados que a compõem"


Olha que formulação interessante, a gastronomia para os autores faz parte estrutural da sociedade, uma forma de se viver, um estilo de vida, mas ela também estabelece uma relação comum com o valor, mas temos dentro da leitura do capital duas formas de se aproximar com a leitura posta nesse texto:

"Inicialmente, a mercadoria apareceu-nos como um duplo [Zwieschlächtiges] de valor de uso e valor de troca." (o capital volume 1 capitulo 1)

"Uma mercadoria aparenta ser, à primeira vista, uma coisa óbvia, trivial. Sua análise resulta em que ela é uma coisa muito intricada, plena de sutilezas metafísicas e melindres teológicos. Quando é valor de uso, nela não há nada de misterioso, quer eu a considere do ponto de vista de que satisfaz necessidades humanas por meio de suas propriedades, quer do ponto de vista de que ela só recebe essas propriedades como produto do trabalho humano. É evidente que o homem, por meio de sua atividade, altera as formas das matérias naturais de um modo que lhe é útil. Por exemplo, a forma da madeira é alterada quando dela se faz uma mesa. No entanto, a mesa continua sendo madeira, uma coisa sensível e banal. Mas tão logo aparece como mercadoria, ela se transforma numa coisa sensível suprassensível. Ela não só se mantém com os pés no chão, mas põe se de cabeça para baixo diante de todas as outras mercadorias, e em sua cabeça de madeira nascem minhocas que nos assombram muito mais do que se ela começasse a dançar por vontade própria."(o capital volume 1 capitulo 1)

O que podemos observar aqui é uma nova leitura do capital se formando a partir desse livro, o capital nós apresenta nesses dois trechos uma similaridade com a leitura feita no livro "o que é gastronomia", a primeira é óbvia, assim como o valor tem um caráter duplo, a gastronomia também está apresentando uma dupla face.

A propósito da segunda parte é a explicação de Marx ao fetichismo da mercadoria de forma mais resumida, mas vamos pegar o ponto focal que se desdobra, em toda a história das mercadorias, o social se sobrepõe às mercadorias, no capitalismo, a mercadoria sobrepõe a sociedade, o que isso quer dizer? Que dentro da sociedade capitalista as relações sociais são sempre envoltos da mercadoria, mas como se encaixar essa leitura com a leitura do "o que é gastronomia"? Quando temos uma certa enaltecimento do gastronômico como uma necessidade humana, esse gastronômico começa a produzir um certo fetiche.

A leitura nutricional do capital 


Pensar na nutrição como um projeto social visando a estética perfeita na visão social é uma característica incomum para esses profissionais, a nutrição aparece dentro da leitura de Marx como um nutricidio, e, o que seria esse nutricidio? A morte nutricional na qual é chamada aparece quando a dieta não tem mais o objetivo de adquirir saúde física para o sujeito, mas para se encaixar na normatividade do capitalismo contemporâneo.


O nutricidio pode ser evidencializado em Marx no capital como um processo de acumulação fetichista (apresentando um diálogo entre dois conceitos do capital),  o acúmulo do fetiche do homem forte e magro e da mulher magra e fraca causa um impacto nutricional sem precedentes e a causa principal do nutricidio.

Considerações finais 

Conseguimos perceber aqui então que existe inúmeras leituras possíveis do capital e dentro delas inúmeras interpretações, eu não tenho o foco em entender o capital através da nutrição ou da gastronomia, esse artigo teve o foco de:

1° apresentar a diferença de leitura e interpretação 
2° apresentar as possibilidades de novas leitura do capital.


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