a teoria da crise e o problema do velho marxismo.

 Não é de hoje que observamos uma crise na sociedade moderna, mas, os teóricos do velho marxismo tendem a não entender o significado da crise, uns falam, a tese da crise no capitalismo já está no mundo faz tempo e nunca houve um colapso definitivo, sim, de fato eles estão certos nesse ponto, desde o momento que a teoria da crise foi posta no mundo, nunca houve uma crise definitiva que acabou de vez com o capitalismo, mas isso não significa que a teoria da crise está errada.


A teoria da crise não está prevendo uma morte definitiva do capital, mas um sangramento constante até a morte e as varias tentativas de estancar o sangramento (no caso, essas tentativas são as metamorfoses do capital). a crise começa desde o inicio do capitalismo, já sendo teorizada por Marx e esquecida por outros autores como Engels, Lênin, Stalin, Mao, etc, mas que volta após o movimento de 1968 na Europa, principalmente com os teóricos da nova leitura de marx, mas é com a critica do valor que a teoria da crise ganha força, principalmente com o teórico Robert Kurz, onde, ele elabora uma das teorias mais importantes para a teoria da crise, não é só a exploração que causa a crise no capitalismo, é todo o capital e sua teia social de reprodução, ou seja,  o trabalho como parte intrínseca da construção social do capital, não deve ser  reivindicado pelos comunistas, mas criticado por eles, Kurz chama essa romantização do trabalho no marxismo como ontologia do trabalho, o que vai muito além das teses de Lukács, ela começa com marx e engels, a ontologia do trabalho é uma das contradições encontradas no duplo marx.


O limite estrutural do marxismo é justamente a sua própria estrutura, uma forma de pensar acrítica ao objeto de estudo central: o Marx. pensar em defender a totalidade de Marx como afirmam uns marxistas é ir contra o estudo no qual marx fez, e, graças a engels ficou estagnado ao longo de todo o século XX, o estudo do capital e das suas transformações, esse estudo é de suma importância para qualquer movimento que se diz revolucionário, principalmente na crise do capital, veja o que José Chasin diz em "a crise nos dois subsistemas do capital":


"A dissociação entre realidade e pensamento, nesse universo, atinge nos dias em curso extremos sem precedentes, cuja medida só pode ser sondada na própria radicalidade da contraposição entre a crise estrutural do capital e a asserção de sua eternidade pela representação ideal."


É logico e evidente que a dissociação entre realidade e pensamento ocorre na sociedade do capital nos momentos de crise e ela só pode ser superada com a dura critica ao capital e toda sua teia social, mas, não é o que faz o marxismo na tentativa falha de recuperar uma  visão sociocrática da sociedade onde não existe uma contradição no capital e sim na dinâmica de classes.


Para pensar em um estudo serio da realidade precisamos entender que o capital é o problema e sempre foi, não é o capitalismo, ele é um produto da modernidade, assim como foi o socialismo de caserna, como pretende a analise de Kurz:


"Na modernidade produtora de mercadorias, são os próprios sujeitos que preparam sua crise(1); na economia de caserna estatista, somente o fazem de maneira específica. A lógica do princípio da mais-valia exige, como já mostramos, a existência da circulação (do mercado) como esfera de realização da mais-valia, porque o dinheiro, a forma encarnada da mais-valia, somente pode aparecer no momento da circulação. A pretensão do socialismo real de socializar diretamente os sujeitos desmente-se, portanto, a si mesma pela determinação formal pressuposta desses sujeitos, nas categorias de uma socialização negativa, apenas indireta." (o dilema estrutural dos mercados planejados).


Essa afirmação dita pelo ensaísta e filosofo alemão é muito interessante porque acaba por confirmar que não existe uma separação entre  os dois sistemas "opostos" na guerra fria, o socialismo real lutou contra o capitalismo na tentativa de evitar o colapso do seu lorde (o capital), mas não percebeu que sua solução é uma aceleração do colapso do capital e o primeiro passo dele para sobreviver foi destruindo esse socialismo real.

aqui é muito importante por um trecho do "sociedade do espetáculo" do Guy Debord:


"É pelo principio do fetichismo da mercadoria, a sociedade sendo dominada por << coisas suprassensíveis embora sensíveis>>, que o espetáculo se realiza absolutamente. O mundo sensível é substituído por uma seleção de imagens que existem acima dele, ao mesmo tempo em que se faz reconhecer como o sensível por excelência."


O que Debord escreve aqui entra em contrate com a citação do Chasin feita nesse artigo, a dissociação entre pensamento e realidade se apresenta em Debord como uma substituição do mundo sensível por imagens que existem acima dele, essa substituição do mundo sensível por imagens não é empírica, mas epistemológica, no sentido que ela não ocorre na natureza ao todo, mas no ser humano e na sua compreensão de mundo deturpada pelo capital, como o próprio fala, é um principio do fetichismo da mercadoria, a sociedade do espetáculo marcou o ponto zero dessa leitura critica radical denominada de critica do valor e se sustenta no criticismo radical.


Pensar a teoria comunista contemporânea sem ter uma leitura critica desses autores é ficar preso no velho marxismo e nunca compreender toda a essência da obra de marx e suas inevitáveis contradições.




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